9 Março, 2013

AS OPOSIÇÕES NO EXÍLIO (FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES, 14 DE MARÇO DE 2013)

2013-03-09 (3)

9 Fevereiro, 2013

PAINEL SOBRE SINDICALISMO MILITANTE E MOVIMENTOS POLÍTICOS RADICAIS (Social Science History Association, Chicago, 21-24 Novembro de 2013)

Labour History News

SSHA Chicago 2013 panel on militant unionism and/or radical political movements

Paul Taillon and I are pulling together a new session for the 2013 meeting of the Social Science History Association in Chicago, 21-24 November. In line with the conference’s theme of “Organizing Powers” we have in mind a panel would look at the theme of workers, insurgency, and the ways in which the state can at times open up conditions for insurgency but also contain and control it. We are particularly interested in work that highlights the role of militant unionism and/or radical political movements.

I plan to present a paper that explores the Minneapolis Teamsters and Trotskyists’ 1948 campaign for a presidential pardon (for their conviction under the Smith Act in 1941) and for the repeal of the Smith Act. Paul plans to talk about a 1920 railroad wildcat strike that drew down upon it the combined forces of the state, the railroad companies, and the conservative railroad brotherhoods. We have a third panelist tentatively committed to our panel who proposes to explore the marine transport workers of the IWW and their resistance to nationalist discourses in the 1920s and 1930s. We are looking for a fourth panelist (in the practice of the SSHA). If you are interested in joining us, please send your responses to me at: dhaverty [at] hunter.cuny.edu

Thanks!

Donna T. Haverty-Stacke
Associate Professor
Department of History
Hunter College, CUNY
695 Park Avenue
New York, NY 10065
dhaverty [at] hunter.cuny.edu

9 Fevereiro, 2013

FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES: JOÃO MADEIRA – ANARQUISTAS E COMUNISTAS NA OPOSIÇÃO AO ESTADO NOVO (14 DE FEVEREIRO DE 2013)

30 Outubro, 2012

SEMINÁRIO SOBRE AS ALIANÇAS DO PCF E DO PCI NOS ANOS SETENTA (5 DE NOVEMBRO DE 2012)

FONTE: FONDATION GABRIEL PÉRI

Dans le cadre du séminaire “Histoires croisées du Communisme italien et français” organisé en collaboration avec la fondation “Istituto Gramsci” de Rome, la dernière séance de l’année 2011-2012, portera sur

Les alliances des partis communistes italien et français dans les années soixante-dix : quelles stratégies ?

Lundi 5 novembre, à 14h30
à la Fondation Gabriel Péri,
11 rue Étienne Marcel à Pantin (93)
métro Hoche
Plan d’accès

Les différentes interventions présenteront des recherches appuyées sur des archives nouvelles avec l’ambition d’éclairer différents aspects de la stratégie nationale et internationale des deux partis communistes.

L’analyse de la stratégie du communisme européen dans la décennie des années soixante-dix est aujourd’hui une question historiographique de première importance pour comprendre l’évolution et la crise des partis communistes européens mais également pour mettre en lumière certains aspects de l’histoire globale du communisme au XXe siècle.

Programme du séminaire :

  • Serge Dandé, CHS du XXe siècle, Paris 1 Panthéon-Sorbonne : “Un programme pas si commun. La stratégie d’union de la gauche du Parti communiste français” ;
  • Michèle Di Donato, Université de Rome III : “Relations asymétriques dans la gauche européenne : Parti communiste italien et social-démocratie allemande, 1967-1976” ;
  • Gregorio Sorgonà, Université de Rome II : “La crise pétrolière dans le débat entre le PCI et le Parti socialiste italien” ;
  • Marco Di Maggio, Université de Rome I, fondation Gabriel Péri : “Regards croisés sur l’Union de la gauche et sur le Compromis historique”.

Discussion coordonnée par Serge Wolikow, directeur de la MSH de Dijon.

22 Outubro, 2012

CORPUS DOCUMENTAL DO PCP : COMISSÃO DE SOLIDARIEDADE DE LISBOA – ALGUNS ELEMENTOS SOBRE A MARCHA DO JULGAMENTO NO PORTO (MAIO DE 1957)

CLICAR sobre a imagem para abrir o documento integral.

18 Outubro, 2012

LANÇAMENTO DO LIVRO DE JOSÉ MANUEL FERNANDES, ERA UMA VEZ A REVOLUÇÃO (LISBOA, 29 DE OUTUBRO DE 2012)

“Tinha 15 anos quando o assassinato de um estudante, Ribeiro Santos, catalisou os sentimentos difusos de revolta que eu já sentia e me levou a tornar-me primeiro num activista das associações de estudantes, logo a seguir num militante radical. Durante os anos que se seguiram dei o melhor de mim, e praticamente todo o meu tempo, à causa da revolução social e política. Até que, ao entrar na maioridade, comecei a ter dúvidas. Depois das dúvidas, veio a refutação das falsas certezas, e à passagem dos 23 anos já compreendera a fatal ilusão em que me deixara envolver. Libertei-me então da ratoeira ideológica do marxismo e dessa sua declinação extrema, o maoismo. Este livro conta a história desses oito anos. Ou, para ser mais exacto, as minhas memórias do que como vivi esse período. São naturalmente memórias pessoais, informadas pelo meu próprio olhar e apenas por ele.”

18 Outubro, 2012

COLÓQUIO BENTO DE JESUS CARAÇA (LISBOA, 25 DE OUTUBRO DE 2012)

18 Outubro, 2012

APRESENTAÇÃO DO LIVRO SETEMBRO VERMELHO, DE CÂNDIDO FERREIRA, DA EDITORA MINERVA|COIMBRA (15 DE NOVEMBRO DE 2012)

FONTE: EDITORA MINERVA

Apresentação do livro Setembro Vermelho, de Cândido Ferreira, da Editora Minerva|Coimbra

15/Nov., Qui, 18h30, Associação 25 de Abril, Lisboa 

A apresentação estará a cargo de José Matos Pereira e José Dias (dirigentes da AAC em 1969 e 1970)

Principal romance até hoje editado sobre a Crise Académica de Coimbra de 1969

«SETEMBRO VERMELHO» de CÂNDIDO FERREIRA

«Cândido Ferreira é o paradigma do homem polifacetado, que coloca em tudo aquilo que empreende o preciosismo inerente à natureza da sua formação científica.

 De prestigiado clínico de vanguarda na sua disciplina, a crónico sonhador de uma sociedade de prevalência dos mais nobres valores do humanismo, Cândido Ferreira, na sua versatilidade, tanto é, com a mesma singeleza, um exponente da arte e do coleccionismo em Portugal, como um dos mais incansáveis lutadores pelas causas da gente simples, proscrita da justiça dos ricos.
Provido de indomável caráter, modelado pela homeose com o mesmo povo que moldou Carlos de Oliveira, arquétipo do neo-realismo português, Cândido Ferreira deu os primeiros passos na literatura retratando a genuinidade de uma paisagem humana insuspeitadamente facultosa.
O talento da sua escrita – designadamente em O Senhor Comendador e A Paixão do Padre Hilário – mereceu o imediato reconhecimento de várias publicações especializadas que, reiteradamente, lhe realçaram o valor literário.
Após algum tempo dedicado a causas de caráter predominantemente artístico e humanitário, Cândido Ferreira volta agora aos escaparates, oferecendo-
-nos Setembro Vermelho.
Trata-se, mais uma vez, de um trabalho de notável qualidade literária que, desde o início, conquista o leitor de múltiplos ponto de vista: desde logo pelo deleite de uma escrita onde o rigor e a harmonia da construção textual são sabiamente temperados com o bom humor e o “suspense” da ação romanesca; depois porque esta ação serve de pretexto para fazer História de alguns factos conhecidos – mas, mais importante de que isso, também de muitos meandros ignorados ou já, simplesmente, olvidados pela voragem do tempo – de um período da vida nacional que Coimbra e os seus estudantes contribuíram decisivamente para que fosse revolvido. Àqueles que tiveram o adrego histórico de neles participar, este livro oferece uma revisitação de duros mas sápidos tempos em que a coragem não era, para a juventude portuguesa, uma palavra vã; para aqueles que os não viveram, a leitura de Setembro Vermelho – para além de ser, a espaços, uma viagem quase voluptuosa por alguns dos meandros do pensamento humano – é uma extraordinária ocasião para, neste nosso mundo dedesvalores, ressuscitar o devaneio de que, quem tem a palavra e a vontade como únicas armas, pode conseguir vergar quem detém o poder.»
Manuel Cidalino Madaleno
Professor do Ensino Superior (Letras)
18 Outubro, 2012

EXPOSIÇÃO “JORGE AMADO E O NEOREALISMO PORTUGUÊS” (VILA FRANCA DE XIRA, OUTUBRO 2012 – MARÇO 2013)

9 Outubro, 2012

COLÓQUIO INTERNACIONAL ALVES REDOL (LISBOA / VILA FRANCA DE XIRA, 7 A 10 DE NOVEMBRO)

Colóquio Internacional Alves Redol e as Ciências Sociais

        – a literatura e o real, os processos e os agentes

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16 Junho, 2012

NOTAS BIOGRÁFICAS – Artur Batista Vieira Bastos

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

Empregado do Comércio e, depois de 1924, patrão (comerciante?). activista, mutualista e associativo , faz parte da direcção do Montepio Aliança, e como delegado do cofre de assistência dos Caixeiros Portugueses, pertenceU ao Conselho federal da Federação portuguesa dos empregados do comércio. Colaborou em Era Nova entre 1919 e 1921.
Fundador do PCP participou nas suas reuniões de formação tendo feito parte do centro comunista de Lisboa em 1922. EM 1923 participa na conferência de 4 de Maio e por ter apoiado Rates é “expulso” pelo grupo de Caetano de Sousa. Nesse mesmo ano é delegado ao I Congresso para a Comissão central do PCP, mas não chega a tomar posse (?). Após 1924, não se conhecem actividades no partido.

Nos anos cinquenta vivia na Casa de Repouso dos Inválidos do Comércio, onde algumas vezes falava em nome dos internados na instituição aos visitantes da casa.

16 Junho, 2012

CINQUENTENÁRIO DA MORTE DE STALINE

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

No ano em que se comemora o cinquentenário da morte de Staline é interessante lembrar alguns aspectos do que foi o estalinismo no PCP . O artigo recente de João Madeira , referido na bibliografia , acrescenta pouco ao que já se sabe do estalinismo no PCP , de que o seu livro Os Engenheiros de Almas . O Partido Comunista e os Intelectuais (dos Anos Trinta a Inicios de Sessenta) é o estudo mais completo . O poema que publicamos junto , de autoria de um “jovem português” não identificado ( “José Didopro” ) , é um exemplo típico do culto de personalidade a Staline e circulou entre funcionários e militantes do PCP entre 1954 e 1955 . Na versão que conhecemos dactilografada uma palavra é ilegível .

Adeus , camarada Staline !

Ó Sol que nos abandonas , após tantos dias nos iluminares !
Ó estrela do Kremlin que empalideces , após tanto tempo rubra !
Adeus , camarada Staline !
Milhões e milhões de homens gemeram de dor ao receber ……. [ilegível ] .
Milhões e milhões se cobriram de luto .
Adeus , camarada Staline !
O funeral passa
A vermelha praça negro se torna .
Todas as praças do mundo se tornam negras .
Adeus , camarada Staline !
Cortejo simples , grandioso , tal como o homem.
Homem ! Mais que Deus !
Vejo-te , como tantos
E como tantos choro .
As lágrimas correm-me ,
Que são gotas no largo oceano jorrado dos olhos dos povos .
Pagam-te o amor com amor
Ó mais odiado e amado dos mortais !
Adeus , camarada Staline !
Nunca serás esquecido !
O caminho que nos indicaste será seguido
Tu que foste sempre um exemplo de modéstia , da ciência !
Só tu confessaste erros ,
Mas só de ti aprendemos
Adeus , camarada Staline !
Na tua doutrina oremos
Por ela as mãos daremos
E o mundo revolveremos
Para que haja Paz !

9 de Março de 1953

José Didopro

16 Junho, 2012

POESIA DA RESISTÊNCIA – Romance do Homem da Boca Fechada

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

Jaime Cortesão – Romance do Homem da Boca Fechada
– Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
– Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar.

Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.

Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.
Passava já de ano e dia…
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.

Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar
– Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
– Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
– Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
– Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!

– A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
– Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!

Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.
– Antes que fale emudeça! –
Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.

A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!

Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!

Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar.

Este poema de Jaime Cortesão circulou clandestinamente nos anos trinta e foi publicado no Avante em 1937 . A publicação de um poema de um republicano sobre um anarquista no jornal comunista inseria-se nos esforços de Francisco Paula de Oliveira /”Pavel” para reforçar uma política de frente popular em Portugal . Sobre Jaime Rebelo veja-se a sua necrologia em Voz Anarquista 1 , 22/1/1975 e César Oliveira , “Jaime Rebelo : Um Homem Para Além do Tempo ” , História , 6 , Março 1995

16 Junho, 2012

CONFERÊNCIA DE DANIEL PIRES SOBRE A BATALHA E O ANARCO-SINDICALISMO (BPMR, 19 DE JUNHO DE 2012)

16 Junho, 2012

NOTAS BIOGRÁFICAS – Emília Guerreiro Geraldo Gomes

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

(1919 – Lisboa, 19/8/2003)

Antifascista de longa data“, inscrita no PCP logo a seguir ao 25 de Abril.

Avante! 4-9-2003

16 Junho, 2012

NOTAS BIOGRÁFICAS – António Braz Perfeito Flamino

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

(1920 – Sintra, 28/8/2003)

Bombeiro sapador aposentado. Membro do PCP, pertenceu ao Comité Local de Setúbal (1940) . Depois do 25 de Abril estava organizado em Almargem do Bispo (Sintra). Segundo o Avante!, “procurou sempre passar os valores e ideais do Partido”.

FONTE: Avante!, 18/9/2003

“António Flamino” / Outras formas do nome: alcunha “O Perna Torta”, PT/TT/PIDE/E/010/82/16393, PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 82, registo n.º 16393

16 Junho, 2012

NOTAS BIOGRÁFICAS – António Rosa Palma (“Tonico”)

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

(1929 – Aljustrel, 9/10/2003)

Delegado de propaganda médica reformado, membro do PCP desde a década de cinquenta. Activista do MND, foi acusado em 1957 de ser membro do Núcleo do PCP de Aljustrel. Em 1963 a sua pertença à Comissão Concelhia de Aljustrel do PCP, levou-o à prisão.

Fontes:

Avante!, 16/10/2003

PIDE, Autos de Perguntas a António Rosa da Palma, Lisboa, 9 Janeiro – 21 Março 1957

PROCESSO: SC PC 7/57 (NT 5134)

16 Junho, 2012

NOTAS BIOGRÁFICAS – Amândio de Sena Cunhal de Melo (Actualizada)

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

(Seia, 8-12-1931 – 13-10-2003)


Técnico de contas reformado, iniciou a sua carreira profissional na Conservatória do Registo Civil até que em Setembro de 1948, ingressou na Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela (EDP) até à reforma. Militante comunista, desde a juventude teve papel activo na campanha de Humberto Delgado. Foi preso em 1961.
Na prática, foi o fundador do PCP em Seia antes do 25 de Abril, onde, segundo testemunho de João Tilly,

nunca temeu as obscuras pressões e o doloroso estigma de se ser conotado como “comunista” numa pequena vila do interior, no tempo da PIDE, muito antes do 25 de Abril; um homem que aliava a intransigência nos seus ideais a uma incrível sensíbilidade e uma sólida sensatez

Depois do 25 de Abril, foi membro da CC de Seia, da CD da Guarda e da DORG do PCP tendo sido candidato várias vezes a cargos autárquicos e eleito para a Assembleia Municipal (1982-1989).

Foto: Amândio Melo e Álvaro Cunhal, que eram parentes, encontram-se

Fontes: Avante! , 30-10-2003

João Tilly, “Morreu Amândio Melo”, Porta da Estrela, 20-10-2003

16 Junho, 2012

LEMBRANDO UM COMUNISTA AMERICANO DE ORIGEM LUSÓFONA : EDWARD S. TEIXEIRA

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

Reproduz-se um artigo necrológico “Lifelong Communist was proud of his ties to Whaling City “, The Standard-Times , 26/8/2004, sobre o comunista americano Edward S. Teixeira, oriundo de Cabo Verde e que viveu a sua juventude na comunidade emigrante lusofona de New Bedford.

A necrologia do Boston Globe está aqui.

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16 Junho, 2012

UM DISCURSO ANTI-COMUNISTA NA ASSEMBLEIA NACIONAL EM 1959

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

O discurso que reproduzimos a seguir, de autoria de André Navarro, constitui uma exaustiva análise da história e política do PCP, vista pelos olhos de um responsável do Estado Novo. Navarro foi deputado, governante e dirigente da Legião Portuguesa e nesta última qualidade tinha acesso às informações “históricas” da PIDE e da Legião, que utiliza no seu discurso.

O discurso encontra-se no endereço da Assembleia da República de onde retiramos o texto corrigindo alguns dos erros de ortografia e de datação mais importantes.

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16 Junho, 2012

FONTES PARA A HISTÓRIA DO PCP: DUAS CARTAS DE PEDRO SOARES/ “LUIGI” DE ABRIL DE 1974

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

Em vésperas do 25 de Abril, o membro do CC do PCP Pedro Soares encontrava-se em Itália, onde o PCI mantinha um aparelho de apoio ao PCP e onde uma série de actividades do partido estavam concentradas. No âmbito dessas actividades, o PCP tinha preparado a ida a Roma de uma delegação de sindicalistas que deveria integrar militantes católicos. Dessa delegação fariam parte frei Bento Domingues e Luísa Teotónio Pereira, actuando Manuel Braga da Cruz como “carteiro” desta correspondência clandestina (A quem agradeço a cedência dos originais.) As cartas são escritas em linguagem figurada, disfarçando as acções clandestinas numa vulgar combinação de viagem. O 25 de Abril inviabilizou a viagem prevista para Maio.

CARTA 1

Rome 9 Aprile 1974

Caro amico Manuel (1)

Dopo la sua partenza, ogni giorno,aspettiamo con fiducia, l’arrivo delle sue notizie. Niente è arrivato finora. Al collegio saremmo tutti preoccupati si io stesso non avessi trovato al Istituto un amico commune che aveva giá recevuto una lettera di lei. Non credo che abbia dimenticato gli amici, nostra ultima passeggiata nel Lungotevere, ni il compito di difendere la continuiti di una amicizia.
Ho recevuto ieri una lettera della sua cugina che me ha tranquilizzato. É unà picole sinpatica amica. M’’ha ditto che erano stati insieme e che lo ha trovato con un splendido aspetto.
Conoscendo bene per esperienza personale la coatica [sic] situazione della Posta italiana ho già concluso che la sua lettera si trove na lunga cola de molte altre che aspettano anche il momento di arrivare al mitenti respettivi.
Per questo non ho potuto inviare il libro sulla pittura renascentista. E pesante e incomodo. Aspetto un momento oportuno da farlo senza la minaccia di sparire.Ma l’invito in cui abbiamo parlato rimane in piede. Há avuto soltanto un cambio di data:al collegio abbiamo deciso de fare la gita un mesa più tarde. Maggio è meglio. Cielo,clima,natnra,tutto at aúta a capire l’ampiezza di questo compito di. ricerca è di contatti con alcuni del luoghi piú meravigliosi di questi bello paese. La partenza será
il 20 maggio. Aspettiamo che nostri tre amici siano qui il 19,sera,una domenica. Al collegio abbiamo tre camere preparate per riceverli. La sua cugina me dice nella lettera ieri ricevuta che la figlia del zio Tonio (2)vuole venire. Siamo di accordo. Gli ricordiamo soltanto l’amppieza del nostro compito.Una volta integrate lo farà bone ne siamo sicuri.
Credo che sarebbe bene si lei potesse vedere con la sua cugina, il piú presto possibile,questa facienda.E il nostro amico Bento (3) che dice su1 questo assunto? Mi pacciarebbe veramente di trovarlo in questo paese doye ogni cosa ci parla dei nostri profondi e grandi compiti dinanzi Dio e gli uomini, nostri fratelli.
Aspetto presto notizie di lei e anche la prima lettera che finora non è arrivata.
Voglia gradire i più cordiali saluti

Suo

Luigi [manuscrito] (4)


P.S.- Farò ii possibile per inviare il libro, ma gli prego de non considerare la sua mancanza come l’annullare di nostro programa. Sarebbe veramente dispiacciente per tutti noi.

CARTA 2

Roma 18 Aprile 1974

Caro amico Manuel

Soltanto oggi ho ricevuto la sua lettera di 13 Marzo,timbrata a Coimbra con la data di 14/3/74.
Questo vuole dire che il ritardo no ha niente da vedde con la posta portoghese,ma con il cattivo funzionamento della posta in questa città.
Dinanzi la sua mancanza di notizie non ho poduto mandarle il libro e anche perchè non ho nessuna fidducia nelia posta,qui,e no sono sicuro che 11 libro arriverà.

Aspetto la visita delle tre persone di famiglia in 20 Maggio,per rimetterlo con assoluta sicurezza.
Ho scritto a lei in 9 Aprile, dopo avere recevuto una lettera della sua cugina che m’ ha tranquilizzato. In questa lettera gli dicevva che la passeggiata era stata reinviata per il 20 Maggio; cio è; 1unedi,asppettando noi il arrivo in 19 sera, per potere intraprendere il viaggio nel giorno seguinte,e rimanere con tempo suficiente in alcune città piú belle di questo paese, considerando che il soggiorno è soltanto di una_settimana.

Gli chiedo di parlare con la sua cugina,per sapere si ha ricevuto la lettera die le ho scritto in S Aprile.In questa lettera 10 parlava in dettaglio della passeggiata ,e le diceva che la data prevista era stata reinviata per il 20 Mqggio. Per questo aveva bisogno di communicare alle altre personne.
Aspetto le sue notizie prossimamente. Vogiia gradire i miei più cordiali saluti

Luigi [manuscrito]


P.S.Gli ringrazio il picolo libro che me ha inviato. Lo ho ricevuto anche oggi.

NOTAS

(1) Manuel Braga da Cruz

(1) Luísa Teotónio Pereira; “Tonio” era Nuno Teotónio Pereira na altura na prisão.

(2) Bento Domingues – frade dominicano activo nos meios católicos progressivos antes do 25 de Abril.

(3) “Luigi” era um pseudónimo italiano de Pedro Soares.

16 Junho, 2012

PANFLETOS ANTI-COMUNISTAS DOS ANOS TRINTA

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

Estes panfletos  são possíveis de datar pelo seu grafismo a meados dos anos trinta (1935?1936?) e têm origem nos meios da nascente Legião Portuguesa.

 

16 Junho, 2012

Vanessa de Almeida – ACÁCIO JOSÉ DA COSTA E O 28 DE FEVEREIRO DE 1935 NO BARREIRO

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

Natural de Sacavém, nascido em 1905, serralheiro nas Oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste, Acácio José da Costa viria a ser preso em 16 de Março de 1935, acusado de fazer parte da organização comunista da vila do Barreiro

Interrogado pela primeira vez no Posto Policial do Barreiro no dia 10 de Março de 1935, Acácio José da Costa começaria por negar qualquer filiação partidária, assim como qualquer envolvimento nos acontecimentos de 28 de Fevereiro (1) , afirmando que «só teve conhecimento do que se tinha passado no outro dia quando tomou o trabalho, tendo visto na Secção de Ferraria Nova, os armários cheios de dísticos comunistas

Esta situação viria a alterar-se durante o segundo interrogatório ocorrido em 3 de Abril, ainda durante a sua permanência no Barreiro. Denota-se então um comportamento típico dos comunistas na época face à polícia, o contar de meias verdades, numa tentativa como o próprio esclareceu durante o seu terceiro e último interrogatório «Que mentiu e não esclareceu a verdade quando dos seus primeiros depoimentos, por querer ocultar a responsabilidade que lhe cabe nos acontecimentos (…)». Refere então ter participado em reuniões com o Delegado do Comité Central do Socorro Vermelho Internacional, de pseudónimo Crispim, que descreve como sendo um «indivíduo baixo, de tez branca, barba e bigode loiro, sardento, usando óculos com vidros claros», o qual teria conhecido em Maio de 1934, aquando de uma visita deste último ao Instituto Ferroviário, acompanhado por mais nove arsenalistas. Posteriormente a esta visita, o mencionado Delegado do CC do SVI teria vindo por duas vezes ao Barreiro em princípios e meados de Novembro de 1934, tendo reunido com Acácio José da Costa junto ao Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, reuniões em que havia participado José Simões/”José da Mina”.

Neste segundo interrogatório, Acácio José da Costa refere que o intuito destas reuniões seria convencê-lo a formar um Comité de Empresa do Socorro Vermelho Internacional nas Oficinas Gerais dos Caminhos de Ferro, devendo para o efeito aliciar mais dois colegas, o que ele afirma ter-se recusado a fazer, informando ainda que muito possivelmente o contactado depois da sua recusa teria sido um operário das Oficinas de nome Virgílio, declarando «ter visto o citado Virgílio entregar ao operário Angelo Couto selos do Socorro Vermelho no momento que o respondente se dirigia para a sua oficina (…)».

O interesse deste segundo depoimento está exactamente nas meias verdades mencionadas acima, que ganharão uma nova dimensão após o terceiro interrogatório, em 15 de Abril de 1935, ocorrido já na PVDE, em Lisboa. Neste, começará por assumir estar filiado no Partido Comunista Português há cerca de ano e meio, tendo sido aliciado por Bento Gonçalves, conhecido pelos pseudónimos de “Albino” e “Mendonça”, durante uma visita deste último ao Instituto dos Ferroviários. O Delegado do CC do SVI de pseudónimo “Crispim” mencionado durante o segundo interrogatório não era outro afinal que o principal dirigente do PCP à época, referindo que era com ele que estabelecia as ligações.

Acácio José da Costa descreve então o seu percurso no interior do PCP do Barreiro. Primeiro ingressou no núcleo secretariado por um outro operário das Oficinas dos Caminhos de Ferro – José Elias Guerreiro -, no qual viria a permanecer por três meses, transitando de seguida para o Comité Local, o qual era constituído por si, por Joaquim Jorge (agulheiro dos Caminhos de Ferro) e por José Simões (operário na CUF). Para além da constituição do Comité Local, Acácio José da Costa discrimina as responsabilidades de cada um dos elementos que o constituía. Assim, Acácio Costa era o Secretário Responsável Político, Joaquim Jorge o Secretário Responsável da Organização e o “José da Mina” o Secretário Responsável da Agitação e Propaganda, referindo ainda que era ele, Acácio Costa «quem transmitia as ordens do Comité Executivo do Partido Comunista Português, aos secretários responsáveis do Comité Local, assim como a orientação a dar aos núcleos, quando estes estivessem a trabalhar mal.»

Acácio José da Costa refere que o Comité Local do Barreiro viria a ser destituído por falta de elementos, funcionando em seu lugar uma Comissão de Controle, constituída pelos mesmos elementos ou seja, Acácio José da Costa, Joaquim Jorge e José Simões, os quais mantinham as mesmas funções. Refere ainda que em Janeiro de 1935 decorrera um Pleno do Partido, durante o qual foi destituído do seu cargo por incompetência, sendo substituído por Joaquim Jorge, o qual passou a acumular funções, informação que, todavia, não nos foi possível confirmar, nem através dos depoimentos prestados por Joaquim Jorge à PVDE.
No que concerne à acção por si desenvolvida na noite de 28 de Fevereiro, Acácio José da Costa assume a sua responsabilidade na afixação de dísticos comunistas nas secções 1 e 4 das Oficinas dos Caminhos de Ferro, assim como o facto de ter sido ele quem hasteou a bandeira encarnada na chaminé das mesmas, tendo sido auxiliado nessa tarefa pelo “Joaquim da Aldeia”, que identifica como trabalhador na ponte rolante, por António Fernandes, também serralheiro nas Oficinas Gerais e ainda por José João Rodrigues, este último operário da CUF. Acácio Costa assume ainda a responsabilidade pela sabotagem do ponto de transformação da electricidade situado na Avenida da Bélgica.
Acácio José da Costa foi quem distribuiu à organização comunista da CUF, através do secretário desta – Flávio Alves – o material de afixação e bandeiras que deveria ser distribuído pelos diferentes núcleos da empresa para ser afixado na noite de 28 de Fevereiro.

Antes de ser julgado pelo Tribunal Militar Especial em 15 de Fevereiro de 1936, Acácio José da Costa, estaria detido no Aljube e posteriormente em Peniche. Julgado, ser-lhe-ia atribuída a pena de 18 meses de prisão correccional, assim como a perda dos direitos políticos por cinco anos. Dado o tempo de detenção, faltar-lhe-iam cumprir 204 dias quando foi transferido para o Reduto Norte de Caxias.

Acácio José da Costa viria a ser enviado para o Tarrafal em 17 de Outubro de 1936 (2) , um mês depois de haver cumprido a pena imposta pelo TME, de onde só viria a regressar em Outubro de 1944.

(1) Jornada de agitação levada a cabo no Barreiro na noite de 28 de Fevereiro de 1935, em resposta ao apelo lançado pelo PCP, para uma «semana de agitação e de luta contra a fome, a guerra e o fascismo», a qual deveria decorrer entre 25 de Fevereiro e 2 de Março.

(2) O campo de concentração do Tarrafal, designado oficialmente por colónia penal para presos políticos e sociais no ultramar, na Ilha de Santiago em Cabo Verde, foi criado pelo decreto-lei nº 26-539 de 23 de Abril de 1936, sendo inaugurado em 29 de Outubro de 1936, com a chegada dos primeiros 150 prisioneiros, entre os quais encontrava-se Acácio José da Costa.

16 Junho, 2012

Natália Santos – “CATARINA EUFÉMIA: (DES) MONTAGEM DE UM MITO”

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

Publica-se a seguir a conclusão de um trabalho de investigação, no âmbito de um seminário do mestrado de História Contemporânea em Coimbra, de autoria de Natália Santos, intitulado “Catarina Eufémia: (Des) Montagem de um Mito”.

“Catarina Eufémia: (Des) Montagem de um Mito” – Conclusão

Morta em 1954, imortalizada desde então, Catarina Eufémia, o mito, torna-se o símbolo de um país em luta, de classes sociais que reivindicam o fim da ditadura salazarista-marcelista, em todas as suas implicações. Ganhando dimensões de fenómeno internacional, com a publicação de um artigo sobre si na revista Mulher Soviética (1) , em torno da sua figura o Partido Comunista Português (2) tenta, ao longo dos anos, promover a coesão, a união, a identificação entre as massas camponesas, em particular, e entre as classes trabalhadoras, numa dimensão mais lata, apresentando-a como paradigma de combate à repressão, à exploração económica e ao atropelamento dos direitos dos trabalhadores. ”Exemplo que não esquece e frutifica” (3) ; é-o a camponesa recordada, lembrada e comemorada por comunistas e anónimos que se deslocam a Baleizão, todos os anos, numa autêntica romaria, criando um cenário onde vários conceitos participam e permitem compreender a finalidade de tal iniciativa, de tal ritual. De facto, pensando nas homenagens a Catarina de Baleizão, eis que surgem realidades associadas, como as de tradição, passado, presente, futuro, comemoração, culto ou, mesmo, religião cívica. Neste quadro, todas estas noções se conjugam, participando na construção do mito político tão prezado pelos comunistas, especialmente após 1974.

Assim que a jovem camponesa perece, o PCP procura apropriar-se da sua estória, escrita por linhas de tragédia e infelicidade (4) , fazendo (frequentemente) sobrepor à Catarina-mãe e à Catarina-mulher a Catarina-camarada, a Catarina-trabalhadora e a Catarina-comunista. A partir de então, as visitas à sua campa sucedem-se anualmente, ganhando estatuto de ritual, acompanhadas de comícios, onde, quase sem excepção, o secretário-geral do PCP tem presença obrigatória. Entre o partido, que promove tais encontros, e a multidão que se forma para neles participar, Catarina Eufémia e os símbolos que consigo arrasta (as bandeiras vermelhas, os cravos da revolução…) fazem a ponte entre ambas as partes, desencadeando, quase de imediato, um processo colectivo de identificação entre estas. Desse modo, as grandes causas do Partido Comunista Português tornam-se, natural e consequentemente, as do proletariado. A democracia, a liberdade, a reforma agrária, o poder das massas trabalhadoras na luta pelos seus direitos constituem-se como palavras de ordem comuns aos celebrantes de Catarina Eufémia, tendo nela o símbolo máximo e superior de dedicação aos ideais referidos. Num misto de apropriação de termos religiosos (como o de “mártir”) e de uso de uma linguagem fortemente política, onde uma visão tripla de presente/passado/futuro é posta em relevo, assim têm lugar os comícios de Baleizão dirigidos ao povo, destinados ao povo, feitos a pensar no povo e nos interesses partidários… e não somente em Catarina.

Embora Catarina Eufémia seja, afinal, mais um pretexto para fazer aproximar o comunismo das classes mais desfavorecidas, dirigindo-se em especial o PCP àquela de que a camponesa era oriunda, a verdade é que ela permite passar a imagem de um Alentejo fortemente comunizante ou comunista; para tal, promove as comemorações anuais do aniversário da sua morte e dando-lhe grande relevância na imprensa, a partir de 1974, variando, todavia, consoante o momento político vivido em Portugal nessa altura, como já verificámos atrás.
Além de referida pela dimensão meramente política que Catarina Eufémia adquiriu pelo Partido Comunista, a jovem camponesa assassinada fica, no imaginário social português, como mãe e mulher. Em romances, peças de teatro, poemas (5) , imagens e canções, aquela dupla condição é invocada, numa combinação de bela mulher e heroína trágica, numa conjugação de tristeza pela sua prematura morte e esperança na justiça futura. Acima de tudo, fica a imagem de uma mulher, uma jovem mulher, mãe e companheira, a quem o Fado foi injusto, ceifando-lha a vida demasiado cedo e em circunstâncias inaceitáveis. Acima de tudo, fica, em sua memória, uma das canções simbólicas do nascer da Liberdade em Portugal, baseada num poema de Vicente Campinas e interpretada por José Afonso:

“Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar” (6)

__________________________________________________________________

(1) Certamente sob iniciativa do PCP.

(2) A par deste partido, um outro, a UDP, também reivindicou Catarina Eufémia como sua militante. Deu, aliás, origem a um conflito entre ambos os partidos que se radicalizou “no dia 23 de Maio de 1976, quando (…) foi destruído um pequeno monumento à sua memória, erigido em Baleizão por iniciativa dos simpatizantes da U.D.P”. Vide A Morte de Catarina Eufémia. A Grande Dúvida de Um Grande Drama, Beja, Associação de Municípios do Distrito, 1974, p. 58

(3) Avante, 17 de Maio de 1974

(4) Devido a vários factos que envolvem a sua imagem: a sua juventude (teria cerca de 26 anos quando morreu); os filhos e o viúvo que deixou; as circunstâncias da sua morte…

(5) Para uma leitura das principais e mais conhecidas composições poéticas dedicadas a Catarina Eufémia, vide 50 Anos depois da Morte. Catarina de Baleizão…

(6) 50 Anos depois da Morte. Catarina de Baleizão…, p. 54

16 Junho, 2012

CARTA DE CANSADO GONÇALVES SOBRE O JOVEM CUNHAL

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

A carta inédita que se publica em seguida foi escrita por Cansado Gonçalves a José Pacheco Pereira em 31 de Julho de 1983. Nela se relata um episódio envolvendo o jovem Cunhal, que Cansado Gonçalves, um dos dirigentes do PCP no início da década de trinta, conheceu bem.

16 Junho, 2012

Júlia Coutinho – JOSÉ DIAS COELHO. A COERÊNCIA DO SER E DO FAZER

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

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«Não chegou a adquirir fama o nome de José Dias Coelho […] e as histórias da arte, se não forem muito minuciosas, ignorá-lo-ão»

(J-A França, Diário de Lisboa de 04-02-1977)

1 – Um estudo recente sobre a Escultura Portuguesa ligada à escola de Lisboa 1 revela-nos serem os anos quarenta/cinquenta os “menos amados” pelas críticas da época e actual. Alerta-nos para a premência do estudo das motivações que têm ignorado e omitido as obras e os nomes desses escultores e faz eco, ainda, do sentimento de alguns deles, ainda vivos, que dizem não se reconhecer numa historiografia que genericamente os apelida de “estatuários” e os vota ao esquecimento. 2

Reconhecendo a importância de um estudo aprofundado – que não este –, importa salientar que este silêncio tem dois grupos de causas, ambos enraizados na sociedade político-cultural vigente. No primeiro grupo incluímos o ensino anacrónico – artístico, pedagógico e curricular – ministrado na Escola de Belas Artes de Lisboa e a inexistência de ateliers e galerias. No segundo temos a censura e a repressão impostas pelo regime e a inexistência de uma crítica isenta. Esta, quando não situacionista, era exercida pelos próprios artistas (J Pomar, L Freitas, F Azevedo, F Lemos, J-A França) gerando fenómenos parciais em função de grupos ou promoções que acabaram por tornar-se numa “tremenda prática portuguesa: a omissão” 3 para além dos regimes políticos, exercida em função de lobbies dominantes.

Hoje, à distância de meio século e três décadas após Abril, quando o sentido de justiça faz mais sentido e da arte se fez História não deixa de ser preocupante que essa omissão continue. Alguns artistas precisamente os que não tiveram escolha, os que não pactuaram nem beneficiaram de encomendas estatais mercê de uma ética assumida com prejuízo das próprias carreiras, serão ignorados. Não lhes assiste o direito à Memória. E aqui incluímos José Dias Coelho.

2 – Se procurarmos na sua obra o conceito romântico de originalidade que acentua a unicidade e irrepetibilidade largamente defendido pelos artistas da primeira geração do modernismo português, não o encontraremos. Percebe-se a ausência dessa ambição que, sejamos claros, era já um anacronismo no período que viu nascer a maioria da sua produção: anos quarenta e cinquenta.

Mas se não podemos considerá-lo original também não podemos vê-lo sob conceitos academizantes associando-o ao exercício da mimesis e ligando-o à prática da Escola de Lisboa onde a escultura foi a última das artes a ser dotada de ensino erudito e a ortodoxia formal limitava os artistas à reprodução invariável dos modelos antigos. As obras de Dias Coelho desmentem-no.

Tão pouco podemos atribuir-lhe uma lógica conforme aos conceitos naturalistas dominantes na comunidade artística oficial, alheada dos movimentos da arte além fronteiras e fiel aos mestres intestinos de fins do século.
Aos artistas, segundo Luigi Pareyson, colocam-se duas maneiras de visualizar ou reflectir a arte que os antecede: ou a encaram “na sua perfeição dinâmica e na sua operativa exemplaridade [geradoras] da possibilidade de uma operação (…) original (…) de uma imitação criadora; ou podem limitar-se a vê-la na sua “extrínseca e imóvel perfeição, e então a forma decai para fórmula, o modelo para módulo, o estilo para cunho, a obra para estereótipo e não aparece senão a estéril repetição”.4 Este não é o caso de José Dias Coelho.

E por não raro depararmos com alguns radicalismos voltamos a Pareyson para afirmar que o dilema entre uma “genialidade artística” ou o “servilismo da repetição” é demasiado peremptório correndo-se o risco de remeter “para o inerte reino da imitação tudo quanto não se inclua nos cumes raríssimos (…) de uma prepotente inovação (…) e perder o critério para distinguir a imitação criadora e inovadora da imitação repetitiva e reprodutiva”. 4 Daqui enferma muita da crítica e da historiografia artística portuguesa.

Sem rupturas morfológicas a escultura de Dias Coelho reflecte o ecletismo de quem necessariamente procura uma plasticidade própria em torno das mais diversificadas fontes. Inconformista, ele persegue ideários cívicos e estéticos de acordo com o momento histórico que se vive e as concepções humanistas de Bento de Jesus Caraça (1901-1948). Colocando a tónica no Homem, Caraça definiu valores éticos e culturais que influíram toda uma geração e subjazeram ao ideário dos artistas que então procuravam, por caminhos comuns, uma singularidade pessoal.

Aderente do neo-realismo, o movimento que melhor enformou desta ideologia totalizante – pese embora um estudo aprofundado nas artes plásticas esteja por fazer -, a verdade é que as suas obras não reflectem a iconografia que se convencionou associar-lhe. Com uma ideologia comum que as Exposições Gerais de Artes Plásticas traduzem, nem sempre aos artistas as motivações iconográficas se lhes equivalem o que deita por terra certa argumentação de um fazer estritamente direccionado ou arregimentado.
Movendo-se num universo realista ou refugiando-se num verismo lírico muito seu, Dias Coelho tem no desenho a sua expressão mais constante o que “não deixa de se revestir de particular importância – na medida em que, entre nós, o escultor rarissimamente desenha ou procura”, como assinalou Pomar.

De notar que lhe foi atribuida pelos seus pares uma 3ª medalha de escultura num dos salões anuais da SNBA (Primavera, 1949) o que atesta o reconhecimento de um percurso de pesquisa e de liberdade criadora: ”Dias Coelho está a entrar num caminho seu, de teimosa procura e simplificação fecunda. Simplificação que não significa eliminar dificuldades, mas constatá-las e vencê-las através de persistente e inteligente trabalho o mais das vezes silencioso e sem alardes” – palavras que o perfilam na demanda da sua plasticidade. (J. Pomar, Vértice, Junho 1950)

Artista moderno e não conformista, reconheçamos a Dias Coelho um sentido de pesquisa e de inovação sempre perseguido e nunca abdicado, mesmo quando as contingências de uma vivência clandestina o obrigaram a um dificílimo exercício do fazer. Conhecem-se duas pequenas esculturas de 1958, duas “maternidades,” em terracota, uma das quais oferece ao médico que acompanha o nascimento da sua filha Margarida. Em plena clandestinidade.

3 – O conjunto de obras escolhidas para esta exposição, não sendo absolutamente representativo da produção de Dias Coelho, dá-nos uma visão abrangente dos géneros e temáticas que povoaram o seu universo. Num total de 31 peças em que apenas duas são esculturas, reúnem-se aqui praticamente todos os géneros, temas e materiais por si trabalhados, divididos por cinco núcleos: Retrato e Caricatura; Pintura e Desenho; Imagens de Pinhel; Clandestinidade; Escultura e Cerâmica.

Como género artístico, o Retrato assume um lugar único no contexto geral da sua obra seja em desenho, pintura, modelagem ou caricatura. Proliferam os retratos que se conhecem da família, dos amigos, de colegas e de personalidades da vida cultural portuguesa como Isabel Aboim Inglês, Alves Redol ou Fernando Namora.

A característica que mais ressalta deste conjunto de obras é que praticamente todas correspondem à fase mais juvenil do artista, sendo muitas delas anteriores à sua entrada em Belas Artes (1942). Veja-se, por exemplo, a “Cabeça de Rapaz” (1938), cópia de uma gravura renascentista, que corresponde aos seus 15 anos Apenas os retratos de Margarida e de Teresa (1957), feitos na clandestinidade, se demarcam cronologicamente dos restantes que não ultrapassam a primeira metade da década de quarenta: os retratos de Fernando (1940), Natália (1941), pai (1942) correspondem aos seus 17, 18 e 19 anos de idade. Contudo, pese embora a pouca idade de Coelho, é notória a sua capacidade na percepção do essencial, a grande economia de meios e o domínio absoluto do traço. Especial destaque nos merece o retrato da mãe, denotando um sentido de composição apurado por onde perpassa já uma assimilação cubista no tratamento das massas e um domínio do claro-escuro denunciador de um fazer escultórico. Idêntico tratamento tem a “Mulher Grávida” que apenas a composição dos panejamentos sugere, conferindo uma solidez que um traço expressionista tende a afastar da idealização.

De uma maneira geral o autor não oculta as suas influências. Adopta com frequência o irrealismo russo e o lirismo eslavo, principalmente o irrealismo de um Chagall, a linearidade clássica de um certo Picasso, ou a beleza poética e despojada de Matisse, esta sempre mais conseguida no traço que na cor. Veja-se o belo prato de cerâmica onde o motivo da maternidade (omnipresente na sua obra) é tratado num compromisso entre o classicismo de Picasso e a onírica delicadeza gráfica de Chagall. Quanto ao seu traçado, à sua linha firme e despojada, essa vai de Picasso a Matisse; do primeiro detectam-se vestígios, por exemplo, nas cabeças mais clássicas, de perfil grego (Par Abraçado) enquanto a sensualidade de Matisse perpassa no ondulado dos corpos. As linhas circulares envolvem as duas figuras unindo-as num espaço uterino e protector.

Das obras expostas, “Casal com Duas Crianças” (1952) – um dos poucos óleos que se lhe conhecem -, é a que mais impressiona pelo lirismo temático, pela composição e pela qualidade plástica. Lembrando Van Gogh e Vlaminck na delimitação dos espaços a que o arrojo da árvore cezanneana confere dinamismo, a composição apresenta um ritmo centrífugo que nos é dado pela distribuição espacial e pela pincelada. Uma discreta noção de vórtice com epicentro no casal oferece-nos a visão intimista e feliz em que o autor se revia, num momento em que tentava formar a sua própria família.

Nas duas peças escultóricas encontramos as temáticas que se lhe impõem e o artista persegue desde que conhecera Margarida: a “Maternidade” e a “Família”. Nelas encontramos já uma proposta pessoal do autor, bem conseguida sobretudo na primeira, onde é notória a procura constante duma simplicidade formal aliada à plenitude e sensualidade volumétricas que a modelação, a que sempre recorre, acentua.

As duas obras do núcleo Clandestinidade correspondem a uma fase determinada do seu fazer militante, onde a temática neo-realista está presente. Trata-se de um fazer em função de causa públicas. O estudo para o desenho “Morte de Catarina” assinala o assassinato de Catarina Eufémia pela GNR, em Baleizão (1954).
Já “Prisioneiros Políticos” um desenho extremamente bem conseguido, ilustrou milhares de panfletos e serviu de bandeira na angariação de proventos para auxílio aos presos políticos e às suas famílias que Salazar e a PIDE mantinham indefinidamente nas prisões. Talvez seja a sua obra mais divulgada, apesar de circular anónima.

Pinhel, a sua terra bem-amada, não podia deixar de estar presente na obra de Dias Coelho. Ele que se orgulhava das suas origens beirãs e aqui regressava com frequência, deixou imortalizados, como vemos, os mais emblemáticos recantos da cidade. É precisamente na sua “Paisagem com Castelo” que melhor podemos apreciar o quanto bebeu da lição cubista. Curioso ainda o cartaz para as Festas da Cidade, (seria interessante averiguar da data) onde não faltam os principais ex-libris pinhelenses.

«Há quem tombe por um rio / Impetuoso e comum.
Alcântara dos tiros cegos / Alcântara sessenta e um

(Pedro Alvim in Notícias do Bloqueio déc. 60)

4 – José Dias Coelho tinha 38 anos quando foi morto (1961). Dividido entre a Arte e a Política optara por esta, o que significava, então, passar a viver na clandestinidade. Tomara essa decisão seis anos antes (1955). Com todas as contingências inerentes. Já na sua ausência, a 10ª Exposição Geral de Artes Plásticas (1956) mostrara a derradeira participação pública deste artista que, corajosamente, abdicara de uma carreira promissora, da sua identidade e da própria liberdade pessoal para, anonimamente, combater pela liberdade de todos. A força anímica, acreditamos, adveio-lhe de ter consigo a mulher e a filha, esse reduto familiar que lhe era fundamental.

Talvez não tenha deixado uma Obra. Não viveu o suficiente para isso. Mas tem direito à Memória. Por generosidade e modéstia de carácter nunca pensou em termos de carreira. Não fomentou exposições individuais, não procurou sucesso pessoal. Colocou sempre os objectivos colectivos acima de quaisquer outros. A sua arte ficou dispersa pela família, pelos amigos, pelos camaradas, por todos os que amava. Fazia-a por prazer. Oferecia-a a quem a sabia apreciar. Era a sua forma de afecto. Era aquele “pedaço” de si “que se quer dar” – de que nos fala nos poemas.

É ainda de afectos que falam os seus retratos. Mais do que uma simples representação eles traduzem o seu desejo de suspender o tempo, tornar presente a ausência, perdurar os afectos para além do tempo. Fixá-los numa imagem «viva». Porque a sobrevivência se consegue pelos elos afectivos. Que induzem a diálogos interiores. Que constroem uma cadeia colectiva de outros afectos. E de valores. Valores e Afectos que se pretendem imunes à morte. Intemporais.

1 – Aida Sousa Dias, O Corpo Feminino na Escultura dos Anos 50 em Portugal, FBAUL, 2000, p.10 e seg.
2 _ José-Augusto França, A Arte em Portugal no Século XX, p. 260 e seg.
3 _ J F Pereira, Reflexões sobre as Teorias da Escultura Portuguesa in ARTETEORIA N 2, 2001, p 17-18
4 _ Luigi Pareyson, Os Problemas da Estética, ed. Martins Fontes, S Paulo, Brasil, 1997, p. 137-138

16 Junho, 2012

Júlia Coutinho – JOSÉ DIAS COELHO – BREVE CRONOLOGIA PESSOAL E AFLUENTES

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

(Capa de José Dias Coelho para o boletim clandestino Portugal-URSS)

1923

JOSÉ ANTÓNIO DIAS COELHO nasce a 19 de Junho em Pinhel, freguesia de Santa Maria. Filho de Alfredo Dias Coelho e de Juliana Augusta Coelho será o quinto de nove irmãos: Alice, Alberto, Fernando, Rui, José António, M Sofia, M Adelaide, M Natália e M Emília.

1925

Devido à profissão do pai – Escrivão de Direito -, a família vai residir para Coimbra. Faz os primeiros anos da instrução primária. Nasce a irmã Maria Sofia (11.07.28).

1930

O pai é colocado em Castelo Branco para onde vão residir. Termina a instrução primária e entra para o Liceu local (actual Escola Secundária Nuno Álvares) onde completa o 4º ano (1934-1938). Joga futebol (e bem, segundo testemunhos), uma prática que se irá manter enquanto estudante. Nascem as irmãs M Adelaide (27.03.32) e M Natália (02.12.35). Primeiras produções de desenhos e caricaturas. Morre o irmão Alberto. Começa a Guerra Civil de Espanha (1936-1939)

1938

A família Dias Coelho muda-se para Lisboa, para a Rua Ilha de São Tomé, 14-rc/dto. Ingressa no Colégio Académico à Rua Álvaro Coutinho 14-16, onde termina os estudos liceais. Dirigido pelos padres Avelino de Figueiredo e Sousa Monteiro, e pelo Major Simões Silva, o Académico reunia um excelente leque de professores, alguns impedidos de exercer no ensino oficial, como Newton de Macedo (afastado da universidade) e Berta Mendes (a Bá), mulher do escritor Manuel Mendes, com quem estabelece relações de amizade. Mercê deste contacto privilegiado acede às célebres tertúlias na casa da Rua Angelina Vidal e aí convive com Abel Salazar, Bento de Jesus Caraça, Manuela Porto, Lopes Graça, Carlos de Oliveira, João José Cochofel, Keil do Amaral, Abel Manta e outros.

1939

Nasce a irmã M Emília (27.03). O Colégio Académico inaugura (24.06) nas instalações da secção feminina (Av República 13) a exposição anual de trabalhos dos alunos, onde expõe pela primeira vez. A imprensa refere-se-lhe especialmente: “de entre os desenhos, destaca-se a exposição de caricaturas do aluno Dias Coelho” (Século, 25.06); “Dias Coelho, sem dúvida a maior revelação desta exposição (…). O seu lápis tem qualquer coisa de verídico. (…) grande sucesso lhe está reservado no futuro.”(Diário de Notícias, 30.06). Termina a Guerra Civil de Espanha. Deflagra a II Guerra Mundial (1939-1945).

1940

Faz exames do 5º ano no Liceu Nacional de Pedro Nunes (30.06) com média final de 12 valores.No então Bairro das Colónias, onde reside, integra um grupo de amigos com quem partilha as alegrias juvenis e as preocupações sociais. Frequentam diariamente o Café Colonial (Av Almirante Reis 24) e desse grupo fazem parte Diamantino Vargas, Victor Santos Tavares (o Saysha), José Plácido de Sousa e o escultor Joaquim Correia, entre outros.

1941

Termina o Curso Geral dos Liceus, área de letras (Gil Vicente), com média de 13,4 valores. Para mais tarde poder ingressar no curso de oficiais milicianos matricula-se no INEF – Instituto Nacional de Educação Física (a funcionar provisoriamente nas instalações da Escola Normal do Magistério Primário, em Benfica, então encerrada por Salazar), onde é colega do escultor Jorge Vieira e do encenador Artur Ramos. Salazar, que deteve o Ministério de Guerra de 1936 a 1944, “considerava o grau de cultura dos alunos das Artes insuficiente para acederem às elites militares” (Ana Isabel Ribeiro, 1993).
Frequenta as aulas de desenho dos Mestres Falcão Trigoso e Paula Campos, na Escola António Arroio, para habilitação à Escola de Belas Artes. Aí conhece Francisco Castro Rodrigues, um amigo que vai marcar o seu percurso de vida.

1942

Matricula-se no curso de Arquitectura na então EBAL – Escola de Belas Artes de Lisboa (só em 1950 passará a superior). Consigo entram Júlio Pomar, Victor Palla, Marcelino Vespeira, Fernando Azevedo, Jorge de Oliveira, Vitório David e Rolando Sá Nogueira. Conhece Frederico George (1915-1994) – regressado à EBAL em 41 para fazer Arquitectura -, personalidade que influenciará ética e esteticamente toda a geração de José Dias Coelho. Faz uma pequena escultura, uma máscara, da irmã Natália. Com Castro Rodrigues inicia o seu percurso partidário, ligado à Federação das Juventudes Comunistas. Reúnem em casa deste (Rua Senhora do Monte) onde estudam e discutem textos marxistas. Dedicam-se ao auxílio dos refugiados da guerra e dos presos políticos e suas famílias, angariando medicamentos, roupas, géneros alimentícios, dinheiro ou levando-lhes apoio médico premente conseguindo a colaboração de nomes como o Prof. Pulido Valente que generosamente com eles se desloca por vezes aos locais mais recônditos.

1943

Reprova em três cadeiras. O então director da EBAL e também professor Arq Luis Alexandre da Cunha (1893-1971), que passaria à História como “Cunha Bruto”, mantém uma postura prepotente e déspota pautando as avaliações por critérios parciais. Discrimina os alunos consoante provêm dos liceus ou das escolas técnicas (António Arroio e Casa Pia), não reconhece às mulheres capacidade para o curso de Arquitectura, aprova ou reprova segundo as simpatias pessoais . A alternativa, para muitos, é a transferência para a Escola de Belas Artes do Porto e lá fazerem as cadeiras daquele professor. Seguem esta opção Júlio Pomar, Victor Palla e Jorge de Oliveira, enquanto Vespeira e Azevedo se afastam em definitivo do meio académico.

1944

Não se matricula em 1944-45 porque é chamado para o serviço militar em Tancos. Com ele, segue o colega e amigo Vitório David. É criado o MUNAF. Jorge Vieira entra para Belas Artes. Numa entrevista dos anos 90, lembra uma distribuição de comunicados daquela organização feita por ambos no INEF.

1945

A família Dias Coelho muda-se para o bairro de Campo de Ourique e passam a residir na Rua Almeida e Sousa, 67-1ºEsq, no prédio ao lado do Prof Bento de Jesus Caraça. Termina a Segunda Guerra Mundial. É fundado o Movimento de Unidade Democrática (MUD) e é através da sua Comissão de Escritores, Jornalistas e Artistas Democráticos (CEJAD) e da sub-comissão dos Artistas Plásticos – de que fazem parte Castro Rodrigues e Dias Coelho – que vão encetar-se esforços para dar aos artistas um local onde exporem, que não o SNI. O processo passará pela entrada de novos sócios para a Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA) e pela subsequente alteração da correlação de forças nos orgãos directivos. Em 1945-46 matricula-se nas cadeiras do primeiro ano e em algumas do segundo. João Abel Manta entra para Belas Artes.
Com Manta, Sá Nogueira, Jorge Vieira, Duarte Castelo Branco, Sena da Silva, João Malato, Vitorio David e outros cria o hábito das tertúlias. São conversas de cariz cultural, sempre, mas onde Coelho introduz, também, questões político-sociais e que se estendem noite fora na casa de Vieira, na de Duarte, no Café Chiado ou, ainda, no atelier de Frederico George, uma segunda casa para todos. Lêem e discutem livros que circulam de mão-em-mão, revistas de arte trazidas por João Abel e Sena da Silva, frequentam concertos, discutem arte moderna. Apreendem a cultura e a consciência cívica que a escola lhes não dá.

1946

Participa numa exposição privada na dependência do atelier de Abel Manta (pai) com Carlos Calvet, Lima de Freitas, João Abel Manta, Jorge Vieira, Sena da Silva, Lagoa Henriques e Castro Rodrigues. A exposição é visitada pelo Prof. Adriano de Gusmão.
Em 1946 uma lista dos artistas democráticos ganha as eleições para a direcção da SNBA e as portas desta instituição abrem-se à modernidade.
Tem lugar a 1ª Exposição Geral de Artes Plásticas (EGAP) na SNBA (Julho). Realizar-se-ão 10 EGAP´s entre 1946-1956, apenas com interregno em 1952. Pela primeira vez reúnem-se criadores de todos os géneros artísticos, sem limite de idade e sem júri de admissão, numa frente comum de oposição aos Salões de António Ferro. Apenas uma exigência: não voltar a expor no SNI nem colaborar com o governo. Dias Coelho não participa nesta mostra, mas faz parte da Comissão Técnica que procede à sua organização e montagem, com outros colegas como Castro Rodrigues, Sá Nogueira, Louro de Almeida, Lima de Freitas e João Abel Manta.
É criado o MUD Juvenil no Centro Republicano do Lumiar (28.07), no qual milita desde a primeira hora. Activa até meados de cinquenta, a Comissão de Escola do MUD Juvenil da EBAL (de que é líder) vai congregar nomes como J Abel Manta, Lima de Freitas, António Alfredo, M Emília Cabrita, Jorge Vieira, Bartolomeu Cid, José Croft de Moura, Nuno Craveiro Lopes, Sena da Silva, Arnaldo Louro de Almeida, Margarida Tengarrinha, Cecília Ferreira Alves, Tomás de Figueiredo, Hestnes Ferreira, Augusto Sobral, e muitos outros.
Completa o 1º ano de Arquitectura. Em Setembro ainda se inscreve no 2º mas, após uma séria reflexão decide, com o amigo Sá Nogueira, mudar de curso. Ambos abandonam Arquitectura: Sá Nogueira vai para Pintura, Dias Coelho para Escultura (7 Out.).

1947

O MUD Juvenil organiza a Semana da Juventude (21-28 Março). O Governo desencadeia forte repressão e prende a Comissão Central e muitos outros jovens apoiantes. Dias Coelho vai dinamizar a Comissão do MUD Juvenil na EBAL e recolher assinaturas para abaixo-assinados de apoio aos colegas presos. Com Nuno Craveiro Lopes, são dos mais activos nos protestos junto à sede da polícia política. Faz o retrato de João Abel Manta.
Na 2ª EGAP (Maio) Coelho apresenta duas cabeças, não identificadas. Sob ordens do Ministro do Interior, a PIDE invade a SNBA (13 Maio) e retira da exposição 12 obras, de 10 autores: Avelino Cunhal, Viana Dionísio (José Viana), José Chaves (Mário Dionísio), Júlio Pomar, Maria Keil, Arnaldo Louro de Almeida, Lima de Freitas, Manuel Filipe, Nuno Tavares e Rui Pimentel (ARCO). Todos prestam declarações na PIDE e as obras só lhes serão entregues, mais tarde, com a proibição de voltarem a ser expostas. (Arquivos da PIDE/DGS, Proc. SC-494/47)

1948

É chamado para o Batalhão de Metralhadoras 3, no Porto (15 Fev) para prestar serviço como Alferes Miliciano. Aproveita para fazer na EBAP as cadeiras que lhe faltam para completar o terceiro ano de Escultura. Em Outubro regressa à escola de Lisboa.
João Abel Manta é detido pela PIDE (01-02) e vai para Caxias. Mais uma vez Dias Coelho e Nuno Craveiro Lopes lideram um movimento dinamizador entre os colegas da EBAL, e não só, para recolha de assinaturas de protesto. É solto a 14 do mesmo mês.
Participa na 3ª EGAP com a escultura “cabeça de meu pai”.
Tem lugar o 1º Congresso Nacional dos Arquitectos Portugueses, onde se destaca Keil do Amaral que, apesar de eleito, acabará por ser destituído de Presidente do Sindicato Nacional dos Arquitectos. Salientando a interdisciplinaridade que deverá existir entre as “três artes” o congresso abriu caminho para uma colaboração efectiva entre arquitectos, pintores e escultores. Nos anos subsequentes, Dias Coelho irá fazer alguns trabalhos no âmbito desta colaboração: Escola Primária de Vale Escuro, Escola Primária de Campolide, Fábrica Secil (Outão), Café Gelo (Rossio, Lisboa). Vai leccionar Desenho na Escola Industrial Machado de Castro (1948-49). Casamento do amigo Francisco Castro Rodrigues (15.09).
A oposição lança o seu candidato às “eleições” para a presidência da República (Julho) e José Dias Coelho vai constituir a Comissão Concelhia de Pinhel para a candidatura do General Norton de Matos. Afirmando as suas “ideias republicanas e democráticas” a Comissão Concelhia de Pinhel estava empenhada em “reivindicar a decência do acto eleitoral”; tinha a sede na Rua Dr António José de Almeida 27-29 e era constituída ainda pelos democratas: António Amaro Freire de Paiva, proprietário; Arnaldo Mendonça, industrial; Antero Mendonça, industrial; Dr. Horácio Alberto Santos, médico; Maximiano Cardoso dos Reis, proprietário; António Alberto dos Santos, proprietário; Manuel dos Santos Silva, proprietário; Egberto Freire Ruas, industrial; José Miragaia Monteiro, proprietário; Eustáquio dos Santos, comerciante; José António Simões Júnior, proprietário; Antero Silva, comerciante; Alfredo Domingos, industrial e Constantino de Albuquerque, proprietário. (República, 25.01)

1949

Em plena Campanha Eleitoral, que tem início a 1 de Janeiro, é detido pela PIDE (06-01) e levado para a cadeia do Aljube onde fica incomunicável. É solto no dia 10 do mesmo mês.
O candidato da oposição, Norton de Matos, desiste de ir às urnas.
Começa a fazer caricaturas para ilustrar os livros de final do curso de diversas Faculdades.
Apaixona-se por Margarida Tengarrinha, colega de Pintura na Escola de Belas Artes.
O Governo de Salazar é admitido na NATO (04-04). Realiza-se em Paris o I Congresso Mundial da Paz, para o qual Picasso desenha a célebre “pomba” (20-23 Abril).
Participa na 4ª EGAP (Maio) com quatro esculturas: cabeça do pintor Sá Nogueira, “Família”, Baixo Relevo Decorativo, “Escultura” e ainda um Desenho.
Participa no Salão da Primavera, da SNBA, e obtém a 3ª medalha, em Escultura.
Morre Bento de Jesus Caraça (25-06), o ideólogo da Cultura Integral do Indivíduo. O cortejo funerário é organizado pelo MUD Juvenil e o povo inunda as principais ruas de Campo de Ourique numa sentida homenagem.
Após uma longa luta é constituída a Associação Académica na Escola de Belas Artes que a direcção da escola reconhece. Dias Coelho é o grande obreiro e dinamizador. Os Estatutos são largamente discutidos e aprovados em Assembleias Gerais de estudantes. São remetidos à tutela, a Direcção Geral do Ensino Superior e das Belas Artes, do Ministério da Educação. Nunca serão reconhecidos e a Associação acaba por ser proibida.
Partilha um atelier, que já pertencera a Malhoa (Praça da Alegria 47) com Maria Barreira, Vasco da Conceição e Júlio Pomar. Aqui prepara alunos para admissão à Escola de Belas Artes.

1950

Executa a Cabeça do escritor Fernando Namora. Na 5ª EGAP (Maio) apresenta três esculturas: Retrato de Margarida Tengarrinha, Cabeça de Rapariga e “escultura”, bem como três Desenhos e um Retrato não identificado. É criada a Comissão Nacional para a Defesa da Paz (Julho), em Lisboa. Pouco depois esta Comissão lança a palavra de ordem: «100 000 assinaturas para o apelo de Estocolmo!», desenvolvendo uma recolha por todo o país em que participam, sobretudo, jovens trabalhadores e estudantes, e na qual Dias Coelho vai empenhar-se activamente.
É aprovada legislação (Lei 2043) que pretende reorganizar o ensino das Belas Artes, passando este a ser superior e a escola a denominar-se ESBAL. Mas a reforma efectiva só ocorrerá em 1957 com a respectiva regulamentação legislativa (Dec. 41.363). Conclui o Curso Geral de Escultura (31-07), com média de 14 valores. Em Setembro matricula-se no Curso Superior de Escultura, que nunca chegará a terminar.
No ano lectivo 1950-51, conjuntamente com o amigo Sá Nogueira, dá aulas na Escola Veiga Beirão. Aqui é alvo de um processo por parte de Fernando Pamplona, inspector do Ensino Técnico, que o acusa de estar na sala de aulas sem gravata. Alves Redol ganha o prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências e o Ginásio Vilafranquense convida José Dias Coelho para fazer a cabeça do escritor. Ilustra contos de José Cardoso Pires, para a revista Vértice.

1951

Em Maio apresenta, na 6ª EGAP, a cabeça de Alves Redol; expõe ainda cinco desenhos, de entre os quais três são “retratos” que o catálogo não identifica.
Em Junho, no Ginásio Vilafranquense, é prestada homenagem pública a Redol, sendo inaugurado o seu retrato na biblioteca daquela colectividade.
Ascende à Direcção Universitária do MUD Juvenil. Aproveitando a “abertura” da campanha para a eleição do Presidente da República (Craveiro Lopes) e mercê de uma acção concertada em que interveio com Keil do Amaral e F Castro Rodrigues, organiza uma Assembleia Geral da SNBA para discussão pública do Ensino da 8ª Cadeira na ESBAL (Arqtº Luís Alexandre da Cunha). Aprovada uma moção pública a endereçar ao Ministro da Educação, conseguem os alunos, ex-alunos e pais de alunos de Belas Artes a instauração de um inquérito aos métodos pedagógicos do referido professor, conseguindo a sua destituição de director.
No Século Ilustrado (16-05) são reproduzidas fotos de Dias Coelho e das obras “Cabeça de Alves Redol” e “Cabeça de Fernando Namora” afirmando-se que, sendo duas “obras de estilo e força expressiva elas dão também, para além da interpretação fisionómica dos escritores, a sugestão da personalidade de cada um dos ilustres romancistas.”
No ano lectivo 1951-52 dá aulas na Escola Francisco Arruda que funciona provisoriamente nas instalações da Escola Marquês de Pombal, em Alcântara. Margarida ensina na Escola de Paula Vicente. Faz o retrato do escritor Orlando da Costa para o primeiro livro deste.

1952

No Instituto Superior Técnico realiza-se a reunião do Conselho do Pacto do Atlântico (Fev) com forte contestação oposicionista, inserida na campanha da Luta pela Paz. Aos protestos aderem os alunos da ESBAL que recorrem a todos os processos para o demonstrar, fazendo inscrições nas paredes da escola. Isso levou o director a levantar um processo disciplinar a 81 alunos que haviam subscrito um abaixo-assinado de solidariedade com António Alfredo, o colega denunciado como autor das inscrições. Todos são sujeitos a um rigoroso inquérito, e todos vão ser penalizados segundo o grau de culpabilidade que o director decide atribuir-lhes. Dias Coelho e Margarida Tengarrinha são dos mais atingidos, sendo expulsos de todas as escolas do país, pelo período de um ano. Também são destituídos de professores do ensino técnico. Não mais poderão ensinar.
Na SNBA (28-03) durante a eleição de júris de selecção de trabalhos ao Salão da Primavera, o pintor Eduardo Malta acusa Dias Coelho de desonestidade na votação. Malta é desmascarado mas recusa apresentar desculpas, e o incidente origina uma polémica na sequência da qual é expulso de sócio da SNBA. Como retaliação o Governo encerra a SNBA, que só reabre em finais do ano. Em consequência, não se realiza a habitual Exposição Geral de Artes Plásticas. É padrinho de casamento do amigo José Plácido de Sousa (10.05). Cria um painel de azulejos, alusivo à luta pela Paz, que Plácido coloca na frontaria da sua casa em Vila Nova de Cerveira. Vai trabalhar como desenhador com os arquitectos Keil do Amaral, Hernâni Gandra e Alberto José Pessoa (Rua Fernão Álvares do Oriente 8 CV/Esq). Pinta o óleo “Casal com Filhos, junto a um Ribeiro” que oferece ao amigo Diamantino Vargas pelo seu casamento. A revista EVA (Natal) cuja redacção é chefiada por José Cardoso Pires, publica uma série de desenhos dos alunos de Dias Coelho e de Margarida Tengarrinha, na sequência do projecto “Ensino pela Arte” que ambos desenvolviam. Para eles António Pedro escreve a crónica “Quando os Meninos são Pintores”. Passa a viver com Margarida Tengarrinha. (03.12).

1953

Na 7ª EGAP (Maio) mostra duas esculturas: “Retrato de M Eugénia Cunhal”, “Estudo” e dois desenhos. Margarida expõe aqui pela primeira vez. Nasce a filha Teresa (03-09). Ilustra a capa para a segunda edição do livro O Sol Nascerá Um Dia, de Alexandre Cabral. Com o Arq Carlos Rafael colabora na remodelação do Café Gelo com um grupo escultórico (desaparecido), que será fixado na parede. No âmbito da Campanha pela Paz, é editado por Victor Palla um calendário para 1954: «12 Artistas Portugueses», com ilustrações de Júlio Pomar, António Domingues, Maria Barreira, Carlos Rafael, António Alfredo, Alice Jorge, Cipriano Dourado, Lima de Freitas, Querubim Lapa, Rogério Ribeiro, Dias Coelho e Maria Keil: “Este calendário reúne 12 desenhos / de 12 artistas portugueses / e em cada um deles se formula, por diferentes maneiras, um voto único: / um voto único, belo e universal / sejam afastadas / ameaças e pavores, e relegada a guerra / para o rol das coisas que deixaram de existir / um voto único: ver o espírito de negociação / e de entendimento entre os povos / lançar raízes / e dar frutos / que o ano de 1954 seja assim um ano de paz / apertem-se os laços de amizade entre as gentes / e tenham livre curso / as relações culturais, o comércio dos povos, a alegria das crianças”. Uma obra pensada para assinalar datas oposicionistas importantes. Dias Coelho ilustrou o mês de Novembro e assinala o Dia do Estudante, a 25 Nov, instituído na reunião das Três Academias em Coimbra (1951), em homenagem à “Tomada da Bastilha” pelos estudantes em 1921. Tem lugar o II Congresso Mundial da Paz, em Viena, a que assiste Maria Lamas. No seu regresso, em 20 de Dezembro, muitos jovens e amigos a aguardam no aeroporto de Lisboa, mas o voo acaba por ser atrasado e cerca de 50 jovens são presos e levados para Caxias. Entre estes, encontra-se a sua irmã Maria Sofia. No ano lectivo 1953-54, Dias Coelho e Margarida voltam à ESBAL onde fazem a cadeira de Arqueologia.

1954

Faz experiências com vidros na Fábrica-Escola Irmãos Stephens, na Marinha Grande.
Com Júlio Pomar, Alice Jorge, Maria Barreira e outros, enceta experiências com cerâmica quer na Fábrica da C.I.P. na Marinha Grande, quer na Cerâmica Bombarralense, do amigo Jorge de Almeida Monteiro. Na 8ª EGAP (12-21 Maio) expõe duas esculturas: “Retrato de D Maria Isabel Aboim Inglez” e “Pastor”. Apresenta ainda dois pratos cerâmicos, pintados. Desenha a “Morte de Catarina Eufémia”, camponesa assassinada pela GNR em Baleizão (19 Maio). O casal vai viver para a Av General Roçadas 74-1º Frente, em semi-clandestinidade.

1955

Concebe dois grupos escultóricos para a Escola Primária de Campolide (secções feminina e masculina) e uma escultura de vulto para o espaço envolvente da Escola Primária do Vale Escuro, ambas em Lisboa. Infelizmente esta última encontra-se seriamente vandalizada.
Esculpe, in situ, na parede do Café Central, em Caldas da Rainha, um painel desenhado por Júlio Pomar, conseguindo transpor para o gesso a simplicidade e a força do traço daquele artista.
Aceita o convite do Partido Comunista Português e mergulha na vida clandestina (Set-Out). António Borges Coelho recorda a manhã desse dia, em que ambos se “despedem” com um café na Praça Paiva Couceiro, em Lisboa. Margarida e a filha, Teresa, irão juntar-se-lhe em Novembro. Vão residir para a Av Rio de Janeiro, 4-4º andar, trazeiras, a primeira das várias casas clandestinas por onde passarão. Vão montar e gerir um Gabinete Técnico de Falsificações.

Alguns dos pseudónimos adoptados: Fausto, Romeu, Pedro (JDC); Leonor (MT).

1956

Na 10ª e última Exposição Geral de Artes Plásticas (Junho), de carácter antológico, os amigos repõem uma peça sua, a cabeça da irmã Maria Emília, que já havia sido exposta.

1959

Por questões de segurança, e poder vir a frequentar a escola primária, são constrangidos a separar-se da filha mais velha, Teresa, entregando-a à família paterna (Fev-Março).
Nasce a segunda filha, Margarida (25-04).

1960

Embora atribuído apenas a si, sabe-se hoje que escreveu com Margarida Tengarrinha o livro Histórias da Resistência, que circulou clandestinamente e apenas é publicado em Portugal após 1974. Dividido em quatro capítulos, o primeiro e terceiro são da sua autoria, enquanto o segundo e quarto foram escritos por Margarida. Trata-se do primeiro documento sistematizado e publicado no nosso país sobre a Repressão Salazarista.

1961

A 19 de Dezembro José Dias Coelho é morto pela PIDE com dois tiros à queima-roupa na Rua da Creche, em Alcântara. Residia, então, à Rua de Pedrouços (Belém). Pertencia à Direcção da Organização Regional de Lisboa do Partido Comunista Português, e dirigia o Sector Intelectual. Presume-se que tenha sido denunciado.
O funeral realizou-se no dia 26 de Dezembro para o cemitério de Benfica.
Margarida Tengarrinha apenas toma conhecimento da sua morte no final desse dia.
Será ela a redigir a notícia para o jornal “Avante!” que será ilustrada por Lima de Freitas.

Só após o 25 de Abril foi possível levar a Tribunal os agentes da PIDE envolvidos na sua morte. Pertenciam à Brigada de José Gonçalves. Nunca confessaram a denúncia nem quem lhes dera ordens. Apenas um foi condenado – António Domingues -, o autor dos dois disparos que atingiram Dias Coelho. Mas a pena que lhe foi imputada – três anos e seis meses – indignou a comunidade democrática portuguesa no início de 1977.

16 Junho, 2012

António Jacinto Pascoal – ÁLVARO CID: UM HERÓI DISCRETO DE MONFORTE

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

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Álvaro José da Trindade Cid (1903-1976) nasceu em Monforte e tem um trajecto existencial de inegável importância, dado o seu carácter intrinsecamente contestatário, num tempo em que ser anti-fascista era salvo-conduto para a anulação pessoal. Como as pessoas comuns, que não adquirem estatuto visível no domínio do grande público, Álvaro Cid atravessa a história do século XX, em Portugal, sem que se dê por ele, mas fica a sua indelével marca na vida sócio-política da vila de Monforte. Como sempre, para além dos grandes mitos e dos «heróis» consensuais, a história é feita de pessoas iguais ao comum dos mortais, decisivas, contudo, para o processo dessa mesma história.

Álvaro Cid continua a ocupar uma posição obscura na história do antifascismo português, até pelos poucos registos que nos são dados conhecer. Não sabemos se foi membro do Partido Comunista Português, embora tenha sido perseguido pela PIDE/DGS por esse motivo; sabemos, contudo, que esteve sempre longe de ser conotado com o situacionismo e que pugnou pelos direitos dos trabalhadores, que, reconhecidos, o levaram em ombros até à sua morada final, numa urna coberta pela bandeira do PCP.

Álvaro Cid nasceu num dia 3 de Dezembro de 1903, filho do comerciante José Maria Cid, um antifascista de raiz republicana, e de Rosa Emília da Trindade Cid. O pai fora Presidente da Câmara Municipal de Monforte e, em sua casa, chegou a promover actividade política, destacando-se o comício de apoio ao Dr. Arlindo Vicente, feito no quintal, com os oradores instalados na varanda. O carácter antifascista do pai, a sua própria admissão na C.M. de Monforte como funcionário e a sua posterior expulsão, por motivos políticos, moldaram o seu temperamento e instigaram-lhe a vontade de pugnar pelo estado democrático, o que lhe valeu ter tido adversários políticos e perseguições várias.

Casado e com quatro filhos, Álvaro trabalhava no Assumar, na «Casa Vaquinhas», pertença de Francisco José Vaquinhas, homem de grande dignidade e respeitador dos direitos dos trabalhadores, reconhecendo no seu empregado uma figura de elevado valor. Na altura, Álvaro integrava as fileiras das instalações fabris, onde se produzia gasogénio e «brikets». No Assumar, um Professor Primário (JVTT), representante da União Nacional, ter-se-á apercebido das tendências políticas de Álvaro e chegou a agredi-lo, ameaçando-o de o «dar como comunista». No dia seguinte, foi preso. Estávamos nos finais dos anos 30, por alturas do Natal e isso repercutiu-se negativamente na casa de Álvaro. Ao Professor Primário valeu-lhe passar a ser alcunhado publicamente de «o canalha». Já depois deste incidente, «o canalha» voltou a perseguir várias vezes Álvaro, com difamações e perjúrios, quase sempre por alturas de eleições ou do 1º de Maio. Álvaro era já um agitador político, que reunia em casa o Coronel Velez Caroço, o Dr. Manuel Portilheiro e o Dr. Florindo Madeira, todos conotados com a oposição. Aliás, o Dr. Florindo Madeira estudara em Coimbra com Álvaro Cid, sendo correligionários. A este propósito, diga-se que Álvaro Cid, por razões pouco claras, não terminou o antigo 7º ano (actual 11º), tendo estudado em Coimbra e Lisboa, onde contactou com grupos da oposição salazarista.

Entre os anos 30 e 40, fez propaganda política nos concelhos de Arronches, Monforte e Campo Maior, de mota, que comprou para o efeito, altura em que distribuía clandestinamente o jornal Avante!. Chegou, inclusive a ser um amigo íntimo de Álvaro Cunhal, que recebeu mais do que uma vez, em sua casa, em Monforte. Mais tarde tornou-se viajante, ao serviço da Casa João Camillo Alves, em negócios de distribuição de vinhos.

Das várias vezes que foi preso, recorda-se um caso em que, desprevenido, já dentro do jeep da GNR, metia à boca o retrato de Lenine e o comia, para não sofrer represálias maiores; chegado a Alter do Chão, simulou uma dor intestinal e despachou o ícone revolucionário, que lhe poderia valer uma entrada na «frigideira» do Tarrafal. Quando foi detido pela última vez, em 1951, residia já em Évora e era funcionário da Casa Camillo Alves: os dois elementos da PIDE, Silva e Candeias, deram-lhe voz de prisão, ao que Álvaro retorquiu que na sua consciência nada lhe pesava, querendo saber o motivo da detenção. Tendo o Sr. Candeias dito que o motivo era político, Álvaro não hesitou e respondeu «Estou ao vosso inteiro dispor. Se me permitirem, vou-me despedir de minha mulher e de meus filhos». Ouviram-se-lhe ainda estas palavras: «Coragem, Maria! Coragem, rapazes! O pai voltará!». Seguiu para o Aljube, sendo quase todos os dias interrogado na António Maria Cardoso (com sevícias brutais: colocado sobre bancos de cozinha, encandeado por lâmpadas de 500 velas, espancado e com os dedos esmagados, ao som das gargalhadas dos algozes). Depois foi transferido para Caxias, onde só a mulher o podia visitar. Foi numa das celas que fez o célebre dominó: um dominó com dezenas de peças, construído com miolo de pão e que faz hoje parte do espólio museológico da C.M. de Monforte. Durante os 14 meses de cativeiro, o viajante substituto entregava à mulher de Cid o respectivo ordenado, para não comprometer a casa que lhe dava emprego.

Sabe-se que em 1971, por documento pertença da C.M. de Monforte, a PIDE/ DGS enviara um ofício confidencial ao então Presidente de Câmara, Sr. José Maria Soeiro Romão. Ali se apresentavam os dados de Álvaro e lia-se uma breve nota: «É elemento que professa ideias comunistas. Em, 29 Abr. 1971». Cerca de 3 anos depois, a revolução permite-lhe imaginar que o seu passado não foi em vão e que, em sacrifício do seu bem-estar e do dos seus familiares, a sua dignidade mantinha-se, pois nunca se vergara ao regime salazarista.
Em Maio de 1974 torna-se Presidente da Comissão Administrativa e foi no exercício das suas funções que veio a falecer, no Hospital de S. José, em 1976, com 73 anos.

Durante grande parte da sua vida, escreveu artigos para o «A República», «O Século», e para periódicos mais modestos como o «Notícias da Amadora» ou «A Rabeca» de Portalegre. Sabe-se que nunca se tomou de rancores e que tratou os seus inimigos sempre como adversários políticos. Escolheu, porém, o lado da barricada mais difícil. Com isso, não teve os privilégios que poderia ter alcançado, mas alcançou aquele que é o mais caro: a dignidade da consciência.
Chegado de Lisboa, para ser sepultado, os trabalhadores de Monforte retiraram-no do carro onde seguia, carregando-o em ombros. Álvaro Cid não quis cerimónias religiosas. Mas não prescindiu da bandeira comunista sobre a sua urna. Sofreu por delito de opinião e os seus crimes foram apenas as suas crenças. Esteve preso porque pensava doutra maneira, numa sociedade atrasada e periférica que nunca prezou inovações, caracterizada por uma cultura de repressão e exclusão. Álvaro afrontou essa repressão. Desta coragem é feita a massa dos homens desassombrados. Poucos, mas imprescindíveis. Monforte deve reconhecer-lhe o lugar que merece, porque é exemplo para as novas gerações. A escola é o lugar onde o seu nome deve começar a ser estudado e descoberto. Para que não falte nenhuma peça do dominó.

Espanta-nos que a História esteja aqui mesmo a um passo.

Fontes:

Câmara Municipal de Monforte;
Coronel Matos Serra;
Daniel Balbino;
Francisco Cid (filho de Álvaro Cid)

*

António Jacinto Pascoal (Professor da Escola Básica de Monforte)

COMENTÁRIOS:

Agradeço a afixação. Para muitas pessoas de Monforte está a ser uma novidade, mas também um reconhecimento de uma personalidade ímpar. Sabemos também da tentativa rápida de silenciar este nome, através de difamações, que nos fazem recordar os tempos em que se imputava a alguns comunistas o modo da «matança da Páscoa». Calúnias de quem sempre esteve ao lado do poder e nunca recuperou de se ver afastado (por momentos) dele. Curiosamente, noutro contexto, acabo de ler que no Cadaval se recorda o 17 de Julho de 1975, quando o Centro de Trabalho do PCP foi incendiado e destruído. Resta saber onde estava esse papão do «comunismo»…
A neta de Cid deverá trazer um bom contributo, mesmo que emotivo, como de resto já o fez noutro local, para minha surpresa.
Congratulo-me com a «abertura» de JPP e a sua incansável disponibilidade para plasmar a História.

Afixado por António Jacinto Pascoal em agosto 1, 2005 06:37 PM

Curioso o cognome aqui tão condignamente atribuído: «herói discreto». Álvaro Cid foi precisamente isso para mim ao longo de toda a minha vida. Sem o conhecer, esteve sempre comigo.
Desde criança que oiço histórias da sua bravura invulgar, episódios de grande audácia e perseverança que lhe trouxeram, invariavelmente, pesadas dores. Dores físicas e da alma, sendo estas últimas, acredito, as mais difíceis de suportar.
Mais que um antifascista, mais que um membro da oposição política, Álvaro Cid, meu avô, foi um lutador pelos direitos humanos, recusou conivência com a injustiça, sendo incapaz de se manter indiferente à arbitrariedade cruel do regime político então vigente. Poderia ter-se subjugado à força ameaçadora do governo e seus tentáculos, mas não o fez. Tinha consciência das consequências nefastas, para si e sua família, mas, ainda assim, imperou o seu sentido de dever, ou mesmo necessidade,de participar na demanda dos direitos do povo português.
Por tudo isto é grande o meu orgulho em o ter como avô, Álvaro Cid.
Nasci em 1976, dias antes da sua morte. Não me pôde conhecer, mas eu conheci-o, o que só posso agradecer ao meu pai, que ao longo destes anos fez questão de pintar um retrato vivo de seu pai, permitindo-me obter os seus ensinamentos , apesar do desencontro físico.
E,agora, agradeço-lhe a si, caro António Jacinto Pascoal, por esta lembrança, que resultou num belíssimo texto biográfico e literário, o qual concedeu ainda um momento de emoção e comoção aos familiares. Veio, sem dúvida, contribuir para a história de um país, em particular de Monforte, ao avivar a memória de um homem raro como Álvaro Cid.
Em meu nome e de meu pai, Manuel Cid, bem haja!

Afixado por sandra cid em agosto 3, 2005 07:34 PM

Desconhecia este alentejano de fibra!
Foram heróis discretos como ÁLVARO CID que fizeram a diferença, ao esprimir os seus ideais democráticos sem medo dos fascínoras fascistas.

Parabéns pelo artigo.

Afixado por Sertorius em agosto 24, 2005 06:14 PM

Tive o prazer de conhecer, ainda que por pouco tempo, esse adimrável homem que foi Álvaro Cid.
Foi ele que me “incitou” a integrar a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia de Santo Aleixo, sendo ele o Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Monforte.
Era um homem de fortes convicções, um lutador, um amigo.
Sem abdicar dos seus ideais, a todos sabia houvir, para todos tinha uma palavra de esperança…
Muito com ele aprendi, visto que na altura sómente tinha 20 anos.
Sempre hei-de recordar aquele homem, um tanto franzino, um farto bigode e sempre com a sua “bengalinha”.
Obrigado António Pascol por esta homenagem a um HOMEM que Monforte tem esquecido.

Afixado por sabino dias em outubro 3, 2005 02:17 PM

Se alguem tiver mais informação sobre a “casa vaquinhas” ou Francisco José Vaquinhas, por favor contacte-me por email : ricardo.vaquinhas@gmail.com .

Afixado por Ricardo Vaquinhas em janeiro 7, 2006 04:00 PM

16 Junho, 2012

DOIS DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA OPOSIÇÃO NO PORTO

(Reproduzido de ESC, 1ª versão)

José da Silva , Relatório Crítico à Jornada do 31 de Janeiro, 7/2/1947

[Trata-se de um documento que revela as tensões dentro do MUD numa fase terminal, no início da guerra fria. Essas tensões vão levar à divisão da oposição entre os comunistas e não comunistas, consumada depois da campanha de Norton de Matos em 1949. José da Silva, um veterano militante comunista vindo dos anos vinte, foi um dos elementos essenciais da ruptura de 1949 que vai dar origem ao Movimento Nacional Democrático, controlado pelo PCP. Sobre José da Silva vale a pena ler os seus dois volumes das Memórias de Um Operário. Neste documento, publicado pela primeira vez, s críticas às hesitações legalistas e à falta de decisão dos órgãos dirigentes locais do MUD, assim como os elogios ao MUDJ são linhas de clivagem que se vão acentuar nos anos seguintes.]

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8

 
Ruy Luís Gomes, Complemento ao Curricum Vitae de Ruy Luís Gomes (Vida Política)

[Trata-se de uma síntese da actividade política de Ruy Luís Gomes escrita pelo próprio, em complemento ao seu curriculo cíentifico e académico.]

1, 2, 3

Os originais dos documentos pertenciam a Corino de Andrade e uma cópia digital foi cedida por José Carlos Santos, a quem agradeço.

Em Anexo, uma convocatória do 31 de Janeiro de 1947

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16 Junho, 2012

DESAPARIÇÃO DA 1ª SÉRIE DOS ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO NA PLATAFORMA WEBLOG.COM.PT

Os blogues alojados na plataforma Weblog.com.pt  vão deixar de estar acessíveis devido ao encerramento do serviço até ao dia 22 de Junho. Para evitar a desaparição da informação contida na primeira versão dos  Estudos sobre o Comunismo  na rede, que funcionou entre 2003 e 2006, esta foi integralmente copiada. Parte dessa informação será aqui republicada, em particular aquela que incorpora séries que tenho continuamente actualizado, como é o caso de biografias. Sempre que haja novos elementos, a republicação será também uma actualização. Alguma da colaboração de vários autores que também tinha sido publicada, será igualmente reeditada. O mesmo no que diz respeito a notas que contenham novo material informativo. O sistema comum de indexação e de categorias permitirá igualmente uma melhoria das procuras.

11 Junho, 2012

CORPUS DOCUMENTAL DO PCP: A TODOS OS ANTIFASCISTAS, S.D. (ANOS TRINTA)

CLICAR na imagem para abrir o documento completo.

8 Junho, 2012

A CCE DO PC / A COMISSÃO CENTRAL SINDICAL / A SECÇÃO FEMININA DO PC / A FNJC / A CIS / A SECÇÃO FEMININA DA OPOSIÇÃO SINDICAL REVOLUCIONÁRIA / O COMITÉ NACIONAL DOS DESEMPREGADOS, OPERÁRIOS E CAMPONESES A POSTOS PARA O 29 DE FEVEREIRO, EDIÇÕES COMSIND, S.D. [1931]

CLICAR na imagem para abrir o documento completo.

8 Junho, 2012

CORPUS DOCUMENTAL DO PCP: LAVRADORES!, S.D (ANOS TRINTA)

CLICAR na imagem para abrir o documento completo.

8 Junho, 2012

NOVO LIVRO DE JOSÉ GOTOVITCH SOBRE O COMUNISMO BELGA

FONTE: CArCoB

 Du communisme et des communistes en Belgique : approches critiques

Recueil d’articles,

par José GOTOVITCH

Préface de Pieter LAGROU, professeur ULB

Bruxelles : ADEN Éditions
ISBN: 9782805920240
436 pages
14 x 21 cm

Prix spécial CArCoB : 23 € (frais de port n.c.)

 José Gotovitch, né en 1940, professeur honoraire à l’Université libre de Bruxelles, a créé et dirigé de 1988 à 2005, à l’Institut de sociologie de l’ULB, le Centre d’histoire et de sociologie du communisme, et fut le directeur du CEGES pendant la même période. À la tête d’une équipe internationale, il a mené à bien le Dictionnaire biographique du Komintern (Belgique, France, Luxembourg, Suisse), Éditions de l’Atelier, 2001, fruit de multiples séjours de recherches dans les archives du Komintern à Moscou. Il préside le Conseil scientifique du Centre des Archives communistes en Belgique (CArCoB).

Les communistes en Belgique ont joué, jusqu’en 1989, un rôle intermittent mais continu, par leur action positive, mais aussi par la pression virtuelle que leur existence induisait tant au sein de l’appareil d’État que chez leur « plus proche ennemi », la social-démocratie. Bien entendu, cette persistance doit beaucoup à leur nature représentative d’un mouvement mondial et au soutien d’une direction internationale incarnée successivement par la IIIe Internationale et l’URSS.

 Mais il ne manqua jamais de militants qui engagèrent leur vie dans ce chemin sans valorisation autre que leurs convictions, sans récompenses autres qu’une mise en danger de leur avenir, de leur bien-être, de leurs proches, et parfois de leur vie. Comprendre ce qui pouvait les motiver, comprendre la force de cet engagement, malgré tout, à travers tout, a constitué l’un des moteurs de mes recherches sur le communisme belge et principalement sur les communistes.

TABLE DES MATIÈRES

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7 Junho, 2012

CORPUS DOCUMENTAL DO PCP: CC DO PCP, A TENDÊNCIA ANARCO-LIBERAL NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE DIRECÇÃO, 1960

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7 Junho, 2012

CORPUS DOCUMENTAL DO PCP: TODOS DEVEM CONHECER OS BRILHANTES RESULTADOS DAS EXPERIÊNCIAS DO DR. GOFF! [FEDERAÇÃO DE SOLIDARIEDADE E O SECRETARIADO JURÍDICO DA CGT / SECÇÃO PORTUGUESA DO SVI, AS PRISÕES POLÍTICAS E SOCIAIS DE ANGRA DO HEROÍSMO], S.D.

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NOTA: para disfarçar o conteúdo da brochura e permitir a sua divulgação e leitura, o título é falso e esconde um documento político proibido.

7 Junho, 2012

CORPUS DOCUMENTAL DO PCP: A CAMINHO DA GUERRA E DA DOMINAÇÃO ESTRANGEIRA (1937)

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6 Junho, 2012

CONFERÊNCIA: COMMUNISMES ET CIRCULATIONS TRANSNATIONALES (PARIS, JUNHO 2012)

FONTE: Geschichte.transnational

Conf. Ann: Communismes et Circulations transnationales: Acteurs, pratiques et institutions – Paris 06/12
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Centre de recherches sociologiques et politiques de Paris – Équipe CSU (CNRS/Université Paris 8); et du Centre d’histoire sociale du XXe siècle (CNRS/Université Paris 1), Paris 14.06.2012, Centre Malher, Université Paris 1 Amphithéâtre Dupuis

Comité scientifique : Sophie Coeuré, Yves Cohen, Susan Gross Solomon, Claude Pennetier, Bernard Pudal.

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9h30. Introduction par Sophie Coeuré (Université Paris 7) Session 1. Circulation internationale des pratiques militantes

10h-12h30
Discutant : Bernard Pudal (Université Paris Ouest, CSU)

10h – Ioana Popa (CNRS, ISP) : Une plaque tournante des circulations artistiques et scientifiques Est/Ouest : la Fondation pour une entraide intellectuelle européenne (1966-1991)

10h30 – Michel Christian (Université de Genève) : Fraternité ou formalité ? Les jumelages locaux entre partis communistes dans le bloc soviétique

11h – Ioana Cîrstocea (CNRS, GSPE-PRISME). Divisions de guerre froide et sororité globale – aux sources du féminisme est-européen des années
1990
Discutant : Claude Pennetier (CNRS, CHS)

11h45 – Constance Margain (Université du Havre/Centre Marc Bloch). Les instructeurs dans l’Internationale des gens de la mer (1930-1937) :
figures de communistes internationalistes

12h15 – Jérémie Tamiatto (Institut Renouvin). Des missionnaires de la révolution entre deux mondes : trajectoires croisées de Grigori Voitinski et Hans Maring au sein de la révolution chinoise (1920-1923) Session 2. Professions, engagements et circulations

14h30-16h
Discutante : Liora Israël (EHESS, CMH) (sous réserve)

14h30 – Larissa Zakharova (EHESS, CERCEC) (sous réserve). Techniques socialistes dans le réseau mondial des communications ? Circulations dans le domaine des télécommunications entre l’URSS et l’Europe dans les années 1950-60

15h – Simon Godard (Université de Genève) : La construction de l’internationalisme dans les parcours biographiques : le CAEM et la production de l’espace communiste européen

15h30 – Anna-Maria Jackowska (Institut d’histoire de l’Académie des sciences polonaises). Joë Nordmann – représentant et défenseur français des régimes communistes à l’époque de la guerre froide (1949-1952).
Exemple de la collaboration communiste internationale

Session 3. Exils et diaspora

16h30-17h30
Discutant : José Gotovitch (Université Libre de Bruxelles)

16h30 – Astrig Atamian (EHESS, CERCEC). Quelque part entre la diaspora et l’Arménie soviétique : les Arméniens du PCF

17h – Alix Heiniger (Université de Genève). Les militants communistes des organisations « Freies Deutschland » en Belgique, en France et en Suisse : acteurs et réseaux transnationaux dans la lutte communiste contre le régime nazi

Conclusions : Yves Cohen (EHESS, CRH) et Susan Gross Solomon (Université de Toronto)

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Paul Boulland
paul.boulland@orange.fr

Isabelle Gouarné
isabelle_gouarne@hotmail.com

URL zur Zitation dieses Beitrages
<http://geschichte-transnational.clio-online.net/termine/id=19410>

3 Junho, 2012

JÚLIA COUTINHO – MULHERES PIONEIRAS EM ENGENHARIA CIVIL

Rita Morais Sarmento / M. Amélia Chaves / Virgínia Moura

«A ciência é uma coisa perigosa para a mulher.

Não se conhece uma que por ela não

se tenha tornado infeliz ou ridícula»

Joseph de Maistre  (1753-1821)  

I – Hoje ninguém ignora que o Estado Novo, a exemplo de outros regimes ditatoriais contemporâneos[1], considerava as mulheres e os homens essencialmente desiguais. Por isso mesmo, as responsabilidades, as funções e os papéis a que tinham acesso eram igualmente distintos, reflectindo-se nos direitos cívicos e políticos, na educação e no trabalho. A Constituição de 1933 (Artº 5º) expressava isso mesmo ao estabelecer a igualdade dos cidadãos perante a lei, mas ressalvando «quanto à mulher, as diferenças resultantes da sua natureza e do bem da família», prerrogativa que servia a ideologia dominante e que, assim, mantinha a fidelização à Igreja Católica, validando as mensagens das suas encíclicas Rerum Novarum (1891) e Quadragesimo anno (1931), segundo as quais «a natureza», ao conceder às mulheres uma diferenciação na força física, as predispõe naturalmente aos trabalhos domésticos e à educação dos filhos: «é em casa antes de mais, ou nas dependências da casa, e entre as ocupações domésticas, que se encontra o trabalho das mães de família»[2].

Em Portugal, desde os finais da Monarquia, um intenso trabalho havia sido desenvolvido pelas organizações femininas de então na conquista dos direitos cívicos, legais e políticos para as mulheres[3], pugnando ainda pelo acesso destas à instrução enquanto agente emancipador determinante. O regime estado-novista não só silenciou esse trabalho e os nomes das mulheres nele envolvidas, como obliterou tudo o que de positivo a República fez neste campo, empenhando-se em criar o protótipo da «mulher do Estado Novo». Partindo da constatação da supremacia física do homem e dando crédito à predestinação encíclica da «natureza» da mulher em ser mãe e dona de casa, inculca nela o dever de governar o seu universo doméstico tal como Salazar governava o país[4]. A trilogia «Deus, Pátria, Família» será o axioma sob o qual se virá a desenvolver a «educação integral feminina» preconizada por Carneiro Pacheco e que servirá de base à criação da OMEN, Obra das Mães pela Educação Nacional, primeira organização regimental das elites femininas[5] que vai ter acção determinante nesta tarefa.

A casa será, portanto, o lugar apropriado da mulher e o mundo do trabalho ser-lhe-á restringido. Isso mesmo defende Salazar num dos seus discursos: «o trabalho da mulher casada e geralmente até o da mulher solteira, integrada na família e sem a responsabilidade da mesma, não deve ser fomentado: nunca houve nenhuma dona de casa que não tivesse imenso que fazer»[6]. Pela mesma altura, Fernando Pires de Lima proclama: «querer a Mulher, esse ser delicado por excelência, invadir profissões inadaptáveis às suas características de inteligência e resistência, parece-me atitude de muito mau gosto (…) Que honra maior pode desejar uma Mulher, do que ser esposa fiel e mãe amantíssima?»[7]. Ou seja, já não era apenas a robustez física a diferenciar a mulher do homem mas também a inteligência a torná-la inapta para quaisquer profissões.

Mas muitos outros agentes contribuíram para o mesmo fim, e aqui convém lembrar a acção que tiveram alguns escritores na manutenção do mito da «mulher ser delicado» que se pretendia recolhido, não interveniente e alheio a tudo que extravasasse as paredes do lar, pois, «dada a sua “fragilidade natural”», as mulheres, tendiam por «reacção mimética» (…) a ser aquilo que os livros lhes mostrassem» que deveriam ser[8]. Júlio Dantas, um ideólogo a quem o Estado Novo muito deve, já nos anos vinte descrevia as mulheres que decidiam trabalhar em «profissões tradicionalmente masculinas como seres “insexuados”, “criaturas moralmente disvirginizadas (…) naturezas secas, áridas, másculas, agressivas, audaciosas»[9] e, já em pleno salazarismo ao escrever o livro «As Inimigas do Homem» permite-se a seguinte dedicatória:  «”À mãe do homem”, flor de ternura e de graça que perpetuamente governará o mundo, ofereço estas páginas em que me permito sorrir das inimigas do homem, feministas revolucionárias, leaders da nova política dos sexos, por quem o mundo nunca será governado, graças a Deus»[10].  Por sua vez, Augusto de Castro quando em 1919 chegou à direcção do Diário de Notícias criou uma página que intitulou «A Mulher, o Lar, a Creança» cujos conteúdos pretendiam ser uma forma de «interessar o espírito feminino» dado que «as peripécias políticas e a agitação social» em «princípio, não lhes interessavam»[11]. António Ferro tentará reescrever a representação da mulher conferindo-lhe, nos seus escritos, sobretudo uma maior «sensação e imagem»[12] como «resposta modernista às percepções femininas»,[13] posição que não foi bem acolhida por aqueles seus pares que temiam que as mulheres deixassem de «fazer do lar o refúgio do mundo de que os chefes de família necessitavam»[14]. Como se pode verificar, Salazar teve, nos homens de letras, aliados ideológicos bastante eficazes.

Porém, e apesar do cerco que as tolhia, houve sempre mulheres ousadas que transgrediram e procuraram caminhos diferentes. E assim encontramos «escritoras, pintoras, músicas, interventoras no campo social, pioneiras em profissões «masculinas», tanto quanto se podia ser»[15]. Mulheres insubmissas que seguiram à frente do seu tempo e escolheram cursos e profissões que «profanaram» alguns dos redutos masculinos. É o caso das Engenharias e, mais especificamente, o da Engenharia Civil.

Ainda no rescaldo do centenário da implantação da República assinalou-se em Maio passado o centenário do Instituto Superior Técnico[16] e, em Janeiro do mesmo ano, festejou o seu centésimo aniversário a senhora engenheira Maria Amélia Chaves, a primeira mulher a licenciar-se naquele estabelecimento de ensino (1937). Uma senhora  lúcida e bem-humorada que nasceu com a República e nos concedeu uma longa entrevista inserida no número 25 de Faces de Eva. É em sua honra este trabalho. Ele não existiria se a não tivéssemos conhecido. O seu testemunho fez-nos reflectir nas dificuldades, nos entraves, nos preconceitos e nas discriminações que as mulheres pioneiras em profissões «masculinas» enfrentaram.

Não queremos deixar de assinalar – e lamentar – que a historiografia contemporânea continue a ser escrita no masculino e constantemente se ignorem nomes preponderantes na luta pelos direitos cívicos, legais e políticos das mulheres portuguesas. Porquê este silêncio passados cerca de quarenta anos após a acção libertadora do 25 de Abril e quando muitos desses nomes e organizações estão já estudados? Seria de esperar que obras recentes como as duas grandes Histórias de Portugal (José Mattoso, 9 v. e João Medina, 15 v.) prestassem mais atenção às mulheres. Mas só a de Medina inclui um texto de Regina Tavares da Silva – «História no Feminino: os movimentos feministas em Portugal» e, pasme-se, apenas como adenda, no último volume, misturado com a bibliografia e os índices remissivos. Dir-se-ia clandestino. Sabemos como os estudos sectoriais são importantes no campo da investigação histórica, pois, mesmo circunscritos, eles funcionam como frestas por onde a claridade flui para zonas ainda obscurecidas. São ajuda preciosa no derrube dos silêncios e dos preconceitos que continuam a ofuscar a lucidez e o conhecimento necessários para que a História no Feminino seja uma realidade.

 

II – Perguntámo-nos: seria Maria Amélia Chaves a primeira engenheira civil portuguesa? Quem a antecedeu ou precedeu nos cursos em Lisboa e no Porto? E quantas, como ela, conseguiram de facto exercer a profissão? Foi em busca de respostas que nos propusemos identificar e caracterizar minimamente as primeiras mulheres engenheiras civis portuguesas como exemplo de pioneirismo num curso que nasceu assumidamente masculino, no dealbar da implantação da República, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, em 1911, e na FEUP, Faculdade de Engenharia do Porto, em 1915.

a)       – As primeiras licenciadas em EC na FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto)

Começamos por assinalar que a FEUP parece reivindicar o primado na formação das primeiras engenheiras civis oferecendo-nos dois nomes para o mesmo título: Rita de Morais Sarmento, em 1896, na Academia Politécnica do Porto, de que a FEUP é herdeira, e Virgínia de Faria Moura, já no século XX, sem menção à data final de curso. A primeira consta do site da própria faculdade, na secção «História da FEUP pelos seus grandes vultos» como tendo sido «a primeira engenheira civil do país». A segunda, na  página dos Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto[17], da responsabilidade da Reitoria da Universidade, onde também é apresentada como a «primeira engenheira civil do país».  

Quanto a Virgínia Moura tudo indica que o perfil ali traçado tenha por fonte as notícias veiculadas pela imprensa do Partido Comunista Português, de que era militante, como por exemplo a que nos transmite o jornal «Avante!» 1273, de 23 de Abril de 1998[18] que noticia a sua morte ocorrida a 19 desse mês. Os vários documentos consultados dão-na sempre como «a primeira mulher a obter o diploma de engenharia civil», embora nunca apontem qualquer data para início ou fim do curso. A própria deveria estar convencida do seu pioneirismo pois, em nota biográfica num livro por si coligido sobre as Eleições de 1969, refere ter sido «a primeira mulher portuguesa a licenciar-se em Engenharia na Universidade do Porto»[19]. Mas não deixa de ser curioso que estas citações apareçam tantas vezes repetidas e nunca corroboradas.

Consultada a Ordem dos Engenheiros, herdeira da antiga Associação dos Engenheiros Civis Portugueses, informaram-nos desconhecerem Rita Morais Sarmento e, sobre Virgínia Moura, confirmaram a sua inscrição na Ordem em 1948. Consultados, por fim, os Serviços de Documentação e Informação da Divisão de Arquivo e Museu da Faculdade de Engenharia do Porto, na pessoa do Sr. Jorge Pópulo, foi possível estabelecer quem foram as primeiras três mulheres engenheiras civis ali formadas, na primeira metade do século XX, após a Lei 410 de 1915 que transformou a antiga Escola de Engenharia de 1911 em Faculdade Técnica, a qual deu lugar à Faculdade de Engenharia pela reforma de 1926.

1ªs LICENCIADAS EM ENGENHEIRA CIVIL PELA FEUP (PORTO)

Nome

Início do Curso Final do Curso Inscrição na OEe Número
Maria da Conceição Marques Moura

Virgínia de Faria Moura  (faleceu em 19-04-1998)

M Emília de Araújo Martins Campos e Matos

03-11-194329-11-1940

20-12-1943

 21-08-194716-10-1948

28-10-1948

1948 – Nº  2820

Pensamos ter ficado claro que Virgínia Moura não foi nem a primeira engenheira civil do país, nem a primeira da Universidade do Porto. Mesmo considerando apenas as licenciadas após 1915, Maria da Conceição Moura foi quem primeiro terminou o curso, em 1947[20], tendo Virgínia Moura[21] e Maria Emília Campos e Matos terminado ambas, com diferença de dias, em 1948. Para respeitar o rigor, a Reitoria da Universidade do Porto terá de alterar os conteúdos da sua página na internet.

No entanto Virgínia Moura nem sequer precisa desse título para ser uma mulher extraordinária. Filha de uma professora primária, uma mulher culta e determinada que teve a coragem de assumir ser mãe solteira, nasceu em 1915, em Guimarães. Cresceu dentro dos valores republicanos e a sua «estreia política» ocorre ainda no liceu, quando se solidariza com a morte de um estudante universitário[22]. Antes de entrar para a Faculdade torna-se militante do Partido Comunista Português e, desde então, esteve envolvida em todas as actividades oposicionistas ocorridas até Abril de 74, tendo passado pelas cadeias políticas mais de uma dezena de vezes. A PIDE perseguiu-a constantemente e ao marido, o arquitecto António Lobão Vital, desde inícios de quarenta, mas isso não impediu que ambos se tornassem figuras preponderantes da resistência portuguesa. Trabalharam igualmente juntos, muitas vezes em projectos cedidos por arquitectos amigos – alguns que nem podiam assinar – e conseguiram abrir um escritório na cidade invicta, na Praça do Município, 309, 6º andar, Sala 6, uma morada que a polícia do regime vigiava. Como curiosidade, diga-se que no II Congresso Republicano de Aveiro, em 1969, Virgínia Moura e Lobão Vital apresentaram um trabalho conjunto designado: «As Casas dos Trabalhadores». O poeta Teixeira de Pascoais chamou-lhe «uma grande força da Natureza»[23] e Ferreira de Castro, «uma das mais corajosas mulheres de Portugal»[24]. Foi uma acérrima lutadora pela Liberdade. Uma das imprescindíveis, como diria Brecht.

Aparentemente, Rita de Morais Sarmento terá sido a primeira mulher a receber «carta de curso» ou «carta de capacidade», em 30 de Julho de 1896[25] pela Academia Politécnica do Porto, para onde terá entrado com a idade mínima exigida de 14 anos.  Contudo, os Serviços de Arquivo da FEUP não conservam no seu acervo quaisquer registos que comprovem o seu percurso académico. Consultados telefonicamente, os Serviços da Reitoria remeteram-nos para os novos conteúdos da página online, da sua responsabilidade, e que dizem estar disponível em breve.

Perguntamos: teria terminado o curso? O professor Cândido dos Santos, jubilado da Faculdade de Letras do Porto, garante-nos que sim. Mas parece ter-se apoiado apenas nos Anuários da antiga Escola Politécnica do Porto, e estes, quanto a nós, não podem ser considerados fontes primárias. É necessário que haja algumas provas escritas, uma tese de licenciatura, qualquer registo documental que ateste o seu currículo. Também não queremos pôr em causa algumas informações de familiares, que nos merecem todo o respeito, obviamente, mas continua a faltar documentação que corrobore as suas palavras. Cremos como muito possível que não tenha concluído o curso. No entanto, confiemos em que os arquivos da Reitoria do Porto conservem alguma fonte primária e a divulguem, para que as dúvidas se dissipem.

Da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira consta, de facto, uma entrada que se lhe refere nestes termos: «Ilustre senhora, uma das primeiras que foi diplomada com o curso de Engenharia Civil, nasceu no Porto em 1872 e morreu em Lisboa em 28-03-1931. Era filha do jornalista portuense Anselmo de Morais (v.) que dirigiu o jornal A Actualidade e diplomou-se em 1894, na Academia Politécnica do Porto, cidade onde as suas três irmãs mais velhas se formaram em Medicina. Casou com o engenheiro António dos Santos Lucas (v.), oficial de engenharia e lente da Escola Politécnica de Lisboa»[26]. Porém, sabemos como as informações aqui publicitadas eram, muitas vezes, cedidas por familiares ou outras entidades próximas, não sendo assinadas pelos autores. Permanece o anonimato, se bem que a obra tenha sido dirigida por grandes vultos da cultura portuguesa e brasileira.

Foi uma mulher notável, disso não temos dúvidas. O facto de ter entrado aos catorze anos para uma «escola masculina» e ter seguido um curso até aí apenas ministrado a homens, nos finais do século XIX, quando eram raríssimas as mulheres que acediam a cursos médios ou superiores, só por si, faz dela uma inquestionável pioneira. Sabemos que tuberculizou, chegou a interromper o curso e nunca exerceu a profissão. Casou, teve quatro filhas e faleceu relativamente cedo. Foi uma mulher inteligentíssima e, segundo os seus descendentes, uma preciosa auxiliar técnica do marido, o engenheiro António Santos Lucas, que instituiu a cadeira de Mecânica Racional na antiga Escola Politécnica de Lisboa, em 1908, e foi regente da cadeira de Física Matemática na Faculdade de Ciências, que se lhe seguiu em 1911, após a implantação da República. Oriunda de uma família de Aveiro com grandes tradições liberais, Rita Morais Sarmento é avó materna de António Brotas, actual professor jubilado do Instituto Superior Técnico.

Sobre Maria da Conceição Marques Moura e Maria Emília Campos Matos, desconhecemos os percursos profissionais ou sequer se ainda vivem. Contudo os seus nomes aparecem-nos em documentos da Ordem, nomeadamente na «1ª Relação dos Engenheiros que declararam concordância com a incorporação dos bens da Associação dos Engenheiros Civis no Património da Ordem dos Engenheiros»[27], o que nos diz do exercício de uma actividade profissional.

b)       – As primeiras licenciadas em EC no IST (Instituto Superior Técnico, Lisboa)

Como já referimos, o Instituto Superior Técnico festejou o seu centenário em 2011 e promoveu uma homenagem às suas mulheres[28]. Normalmente, nestas ocasiões, costuma procurar-se o primeiro aluno ainda vivo. Desta vez, o IST foi à procura das primeiras mulheres. Saudamos esta iniciativa e o esforço bem pouco comum para tirar da invisibilidade histórica estas pioneiras que ousaram entrar e permanecer numa escola estritamente masculina e onde as mulheres não eram bem-vindas. Sim, porque foram muitas as que se matricularam e acabaram por desistir. Acreditamos que esta iniciativa só foi possível porque uma mulher faz parte do seu Conselho de Gestão. Refiro-me a Palmira Ferreira da Silva, uma cientista que se preocupa com as questões de género e com a preservação da memória histórica, sensibilidade que bem poucos possuem, e a quem agradecemos a forma generosa como colaborou connosco.

Cruzando a informação cedida pelo Instituto Superior Técnico com a da Ordem dos Engenheiros, pudemos apurar as três primeiras engenheiras civis aqui formadas na primeira metade do século passado e que exerceram a profissão.

1ªs LICENCIADAS EM ENGENHARIA CIVIL PELO IST (LISBOA)

Nome

Início do Curso Final do Curso Inscrição na OE e  Número
Maria Amélia Ferreira Chaves

M da Conceição da Costa Barros Magalhães Cruz Azevedo  (faleceu em Out-2008)

Maria Teresa Abranches Pinto

1931/1932-

 1936/19371949

1952

1938 – nº 13491950

1952

Temos, assim, como primeira licenciada pelo Instituto Superior Técnico, Maria Amélia Chaves, em 1937[29]. Seguem-se-lhe Maria da Conceição da Costa Barros Magalhães Cruz Azevedo, em 1949, e Maria Teresa Abranches Pinto, em 1952. Segundo a Ordem dos Engenheiros, Maria da Conceição faleceu em 2008. Sobre Maria Teresa, sabemos ser filha de Abranches Pinto, ministro do Exército entre 1950-1954. Fez o liceu em Moçambique e veio para o Técnico em finais dos anos quarenta. Trabalhou no Ministério das Obras Públicas, no departamento de Construção de Edifícios Públicos e ainda vive. Maria Amélia completou 101 anos no passado dia 28 de Janeiro.

III – O mapa que se segue apresenta-nos a visão geral das primeiras engenheiras civis portuguesas:

Como se pode verificar, Maria Amélia Ferreira Chaves é a primeira mulher a licenciar-se em engenharia civil e, também, a primeira engenheira portuguesa. Entrou para o Instituto Superior Técnico em 1931, precisamente no ano em que os nossos engenheiros levaram a cabo o seu Primeiro Congresso Nacional, e terminou o curso em 1937. Após estágio com o Engenheiro Arantes e Oliveira (pai), entra para os quadros da Câmara Municipal de Lisboa. Tem de se impor para conseguir trabalhar fora dos gabinetes e ir para o terreno fiscalizar as obras. Manda fazer uma saia-calça especial, inventada por si, para poder andar nos andaimes sem constrangimentos. Consegue fazer-se respeitar pelos operários. Ao contrário, sente-se constantemente cerceada pelas chefias, o que a leva a pedir a demissão da Câmara nos anos quarenta. Como independente, ou por conta de outrem nunca deixou de trabalhar na construção civil, tendo realizado a última obra já perto dos noventa anos de idade, precisamente no prédio onde ainda vive. Foi a primeira mulher a inscrever-se na Ordem dos Engenheiros, em 1938, sendo neste momento a sua decana. Foi a primeira mulher a assinar projectos e a acompanhar a sua execução até final. Foi igualmente autora dos primeiros ensaios anti-sísmicos realizados no nosso país e que foram objecto de duas comunicações por si apresentadas no Primeiro Simpósio dos Sismos, realizado em Lisboa, em 1955: «Aspecto Económico da consideração da acção dos Sismos no Projecto de Edifícios»[30] e «A colaboração do engenheiro e do arquitecto no projecto de construções anti-sísmicas»[31]. Pode dizer-se que foi uma pioneira em toda a linha.[32]

 

Mulheres revolucionárias que desafiaram o seu tempo e romperam com as normas socialmente estabelecidas, num pioneirismo que registamos para Memória Futura.

(Publicado original mente em Face de Eva, 27 e transcrito com autorização da autora.)

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2 Junho, 2012

NOVO LIVRO SOBRE O COMUNISMO BRITÂNICO

After The Party: Reflections on life since the CPGB

Edited by Andy Croft

Twenty years after the demise of the Communist Party of Great Britain, eight former members, all of whom who stayed in the party until the bitter end, reflect here on some of the personal, political and cultural changes of the last twenty years. The paths of Dave Cope, Andy Croft, Alistair Findlay, Stuart Hill, Kate Hudson, Andy Pearmain, Mark Perryman and Lorna Reith have followed very different political trajectories since 1991 – taking them into the Green Party, the Labour Party, the CPB, SLP, Respect and no party at all. But most have remained politically active.

Combining personal and political history, analysis and autobiography, anecdote and argument, the contributors consider the consequences of the CP’s dissolution for British political and intellectual life.

Contents

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2 Junho, 2012

NOVO NÚMERO DE TWENTIETH CENTURY COMMUNISM

Twentieth Century Communism

a jCoverournal of international history

Editors Richard Cross, Norry LaPorte, Kevin Morgan, Matthew Worley

Issue 4

Communism and youth

This issue looks at communism through the prism of its relationship to young people. Contributors discuss young members and youth sections within the communist movement, the youth policies of communist parties and governments, and relationships between the generations both within families and in the public arena.

Contents

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1 Junho, 2012

CONVERSA COM JERÓNIMO FRANCO

FONTE: CASA DA ACHADA

ITINERÁRIOS:
CONTINUAÇÃO DUMA CONVERSA COM JERÓNIMO FRANCO

Sábado, 9 de Junho, 16h

Em Abril já tínhamos conversado com Jerónimo Franco, onde nos contou muitas coisas interessantes. Como ficou muito por contar, Jerónimo Franco regressa neste mês à Casa da Achada.

Como foi vir duma aldeia para Lisboa aos 11 anos, andar na escola e trabalhar. Como foi fazer a tropa em Moçambique. Como foi trabalhar na TAP e ser presidente do Sindicato dos Metalúrgicos antes do 25 de Abril. Como foi discursar a uma multidão no 1º de Maio de 1974. Como foi fundar o MES – Movimento de Esquerda Socialista e dele sair. Como é ir aprendendo com as pessoas e também nos livros. Como é estar reformado e dividir o tempo entre Lisboa e uma aldeia.

A sessão conta com a projecção de um pequeno documentário sobre a luta dos trabalhadores da TAP nos anos 70.

 

Ciclo de Cinema Rir

 
29 Maio, 2012

EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE JÁNOS KÁDÁR

FONTE: Open Society Archives (OSA)

 

Kádár 100 – In His Own Words

kadar1Historical exhibition on the 100th anniversary of the birth of János Kádás in Galeria Centralis, OSA Archivum.

János Kádár was born 100 years ago. As General Secretary of the Hungarian Socialist Workers’ Party, he dominated the period between the crushed revolution of 1956 and the fall of the communist regime. Kádár’s career was shaped by Hungary’s turbulent 20th century, with its lost wars and dictatorships. For many, Kádár is still a living memory – and a highly controversial historical personality. Surveys show that the majority of Hungarians consider Kádár either as a highly influential and popular political leader or as a dictator, the traitor and blood-stained suppressor of the 1956 revolution.

By objectively presenting Kádár’s life and career, the exhibition is intended to compare the nostalgic image that still remains in public memory with the real historical person, in order to dispel the “Kádár-myth” and offer the public a true picture of his character as a statesman and of the decades of his reign. Using well and less well known documents, sound and film recordings of Kádár’s speeches and talks, our intention is not only to invoke the figure created by contemporary official propaganda but also to present a close-up image of the politician in his own environment.

Director András Sólyom’s latest film montage of Kádár will be screened at the exhibition. Furthermore, several hours of voice and film documents will offer an insight into the details of his career, including Kádár’s speeches at the meetings of the Political Committee in the 1980s and excerpts from the address that he delivered to a select audience on the occasion of his 60th birthday in 1972. A separate section, built up of materials from the Institute for the History of the 1956 Hungarian Revolution and the Historical Interviews of the National Széchenyi Library, is devoted to opinions about Kádár expressed by his contemporaries. At the exhibition, visitors can also examine the most important documents of the post-1989 literature on Kádár.

The exhibition runs from May 31 to July 29 2012
in Galeria Centralis, Budapest, V. ker. Arany János u. 32.

Opening hours:
Tuesday to Sunday, 10 a.m to 6 p.m.
Entrance is free.

Partner institutions:

Hungarian National Museum
National Archives of Hungary
The Institute for the History of the 1956 Hungarian Revolution
Collection of Historial Interviews, National Széchenyi Library
Library and Archives of the Institute of Political History
Angyalföld Museum of Local History

Please, note the language of the exhibition is Hungarian.

29 Maio, 2012

CONFERÊNCIA: ENTRE MOSCOVO E A EUROPA – OS PARTIDOS COMUNISTAS DE 1945 AOS DIAS DE HOJE (BERLIM, 22 DE JUNHO DE 2012)

FONTE: H-SOZ-U-KULT

Conf: Zwischen Moskau und Europa. Die europäischen kommunistischen Parteien 1945 bis heute / Entre Moscou et l’Europe. Les partis communists européens de 1945 à aujourd’hui – Berlin 06/12
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Nikolas Dörr, Zentrum für Zeithistorische Forschung Potsdam; Aurélie Denoyer, Centre Marc Bloch; Maximilian Graf,/ Karlo Ruzicic-Kessler, Österreichische Akademie der Wissenschaften; mit Unterstützung der Deutsch-Französischen Hochschule-Université franco-allemande 22.06.2012, Berlin, Centre Marc Bloch, Friedrichstrasse 191, 10117 Berlin
Deadline: 15.06.2012

Die Erforschung der Beziehungen zwischen den kommunistischen Parteien Europas in der zweiten Hälfte des 20. Jahrhunderts hat in den letzten Jahren einen veritablen Aufschwung genommen. Während die Beziehungen zwischen den Staatsparteien des sozialistischen Lagers im Kalten Krieg seit jeher beachtliches Interesse gefunden haben, rückt der Austausch zwischen west- und osteuropäischen KPs allerdings erst in jüngster Zeit zunehmend in den Fokus der Zeitgeschichtsforschung. Insbesondere zu den Kontakten in den 1970er und 1980er Jahren liegen kaum Forschungsarbeiten vor. Aber gerade dieser Zeitraum zeichnet sich durch markante Brüche zwischen west- und osteuropäischem Kommunismus auf der einen und massiven Differenzen innerhalb des westeuropäischen Kommunismus auf der anderen Seite aus, die Aufschluss über die Erosion und/oder Transformationen des europäischen Kommunismus in den 1990er Jahren geben.

Von einem monolithischen Block der kommunistischen Parteien Europas, den man in der direkten Nachkriegsphase mit der Gründung des Kominform 1947 und der uneingeschränkten Führungsposition der Kommunistischen Partei der Sowjetunion noch konstatieren konnte, war spätestens seit der Niederschlagung des “Prager Frühlings” 1968 keine Rede mehr. Die Folge waren verschiedene Wege europäischer kommunistischer Parteien, die sich vom “real existierenden Sozialismus” in Mittelost- und Osteuropa über den jugoslawischen “Selbstverwaltungssozialismus” hin zu den eurokommunistischen Ansätzen des Partito Comunista Italiano (PCI) und Partido Comunista de España (PCE) erstreckten.

Ein großes Desiderat der Forschung stellen weiterhin die Europaeinstellungen jener kommunistischen Parteien dar. Welche Vorstellungen und welche Bilder von Europa herrschten in ihnen vor? Seit den 1970er Jahren wurde die europäische Integration vor allem für die Kommunisten in Westeuropa zu einer enormen Herausforderung. Im Hinblick auf die ersten Direktwahlen zum Europäischen Parlament und der Einführung des Europäischen Währungssystems im Jahre 1979 nahmen Parteien wie der PCI eine proeuropäische Haltung ein, während beispielsweise die französischen und westdeutschen Kommunisten ihre ablehnende Position aufrechterhielten. So lassen sich an den Europavorstellungen der kommunistischen Parteien seit den 1970er Jahren Grundmuster feststellen, die sich bis in die Gegenwart erhalten haben:
Beispielsweise gilt der Partito Democratico als größte Nachfolgepartei des PCI als dezidiert pro-europäisch, während die französischen Kommunisten mit ihrer Negativkampagne im Jahre 2005 maßgeblich zum Scheitern des Referendums über eine EU-Verfassung beitrugen.

In dem Workshop “Zwischen Moskau und Europa – Die europäischen kommunistischen Parteien 1945 bis heute/Entre Moscou et l’Europe – Les partis communistes européens de 1945 à aujourd’hui” werden internationale Expertinnen und Experten in drei Panels diesen Themen nachgehen. Die Tagung wird vom Centre Marc Bloch, der Österreichischen Akademie der Wissenschaften und dem Zentrum für Zeithistorische Forschung Potsdam mit der Unterstützung der Deutsch-Französischen Hochschule veranstaltet und richtet sich vornehmlich an Doktoranden, Post-Docs und Wissenschaftler/innen aus den genannten Forschungsfeldern.
Die Tagungssprachen sind Deutsch, Englisch und Französisch.

Interessenten werden gebeten, sich bis zum 15. Juni 2012 per E-Mail an doerr@zzf-pdm.de für die Teilnahme am Workshop anzumelden.
Teilnahmegebühren werden nicht erhoben.

26 Maio, 2012

DEBATE SOBRE A POLÉMICA DO NEO-REALISMO

FONTE: CASA DA ACHADA

Segunda 28 Maio

CICLO A PALETA E O MUNDO III

Segunda-feira,  28 de Maio, 18h30

Na 3ª parte do ciclo «A Paleta e o Mundo» lemos obras que foram citadas em A Paleta e o Mundo de Mário Dionísio, ou obras de autores seus contemporâneos.

Nesta sessão começamos a leitura comentada, por Marta Raposo e Susana Baeta, de textos da polémica do neo-realismo, em particular dos artigos publicados por João José Cochofel e António José Saraiva na revista Vértice em 1952.

Numa nota de Mário Dionísio na sua Autobiografia (1987) está enumerada uma lista de textos sobre esta polémica:

«Entretanto, ao leitor interessado na vulgarmente cha­mada “polémica interna do neo-realismo”, será indispensável conhecer estes dois grupos de textos, todos eles publicados na revista Vértice, de Coimbra:
I. polémica António José Saraiva – João José Cochofel: Cochofel, «Notas soltas acerca da arte, dos artistas e do público» (Vol. XII, N.° 107, Julho de 52, pp. 343-349); Saraiva, «Problema mal posto» (Vol. XII, N.° 109, Setembro de 52, pp. 495-499); Cochofel, «Problema falseado» (Vol. XII, N.° 109, Setembro de 52, pp. 500-504); Saraiva, «Comentários — A propósito dum lugar comum» (Vol. XIV, N.° 128, Maio de 54, pp.286-288); Cochofel, «Uma carta» (Vol. XIV, N.° 130, Julho de 54, pp. 421-422); «Uma carta do nosso co­laborador António José Saraiva» (Vol. XIV, N.° 133, Outubro de 54, p. 569); Redacção, «Encerramento duma polémica» (Vol. XIV, N.° 135, Dezembro de 54, pp. 726-727). II. Mário Dionísio, «O Sonho e as Mãos» (Vol. XIV, N.° 124, Janeiro de 54, pp. 33-37 e N.° 125, Fevereiro de 54, pp. 93-101); António Vale (aliás Álvaro Cunhal), «Cinco no­tas sobre forma e conteúdo» (Vol. XIV, N.° 131-132, Agosto-Setembro de 54, pp. 466-484); «Uma carta do nosso colabo­rador Mário Dionísio» (Vol. XIV, N.° 133, Outubro de 54, pp. 566-568); «Uma carta do nosso colaborador Fernando Lopes Graça» (Vol. XIV, N.° 134, Novembro de 54, pp. 645-646).»

21 Maio, 2012

HOMENAGEM A ORLANDO COSTA (1929-2006)

FONTE: Casa Fernando Pessoa

Homenagem a Orlando da Costa (1929-2006)

Com a participação de Mário de Carvalho, Maria Barroso, Urbano Tavares Rodrigues e moderação de Everton Machado.

Será lido um testemunho escrito de José Manuel Mendes.

Integrado no Colóquio Internacional ACT 27

Goa Portuguesa e Pós Colonial:

Literatura, Cultura e Sociedade

(uma organização da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)

24 de Maio 18h30 Casa Fernando Pessoa


21 Maio, 2012

SEMINÁRIO: DE QUE É NOME O COMUNISMO? (LISBOA, 24-25 DE MAIO DE 2012)

FONTE:UNIPOP

 

Local: «Seu Vicente» Residências Artísticas (Rua da Boavista, n.º 46 – 1.º, Lisboa – http://seuvicenteresidencias.wordpress.com, localização aqui)

Datas: Dias 24 de Maio (18h30 às 20h30) e 25 de Maio (18h30 às 20h e 21h30 às 23h)
Organização: UNIPOP
Coordenação: Bruno Peixe Dias e José Neves
Apoio: «Seu Vicente» Residências Artísticas, c.e.m (centro em movimento), Câmara Municipal de Lisboa
A frequência do seminário é livre, mas pede-se aos interessados que efectuem uma inscrição prévia, enviando um e-mail com o nome para cursopcc@gmail.com.
Lugares limitados.
No final do seminário será emitido um certificado de frequência.
O comunismo, enquanto nome, ideia e projecto político, conhece, de há uns anos a esta parte, um novo fôlego, não só enquanto categoria teórica, nos trabalhos de filósofos como Alain Badiou, Michael Hardt e Antonio Negri, Slavoj Zizek, Gianni Vatimo, Jodi Dean ou Bruno Bosteels, mas também na própria prática política: a dos partidos e organizações que há muito se reclamam desse nome, mas também a de movimentos e agentes colectivos associados aos mais recentes ciclos de luta contra o capitalismo.
Trata-se, no caso destes movimentos e lutas, menos de pensar o comunismo como programa a realizar, mas antes de o conceber como processo de construção de novas formas do viver colectivo, necessariamente precárias, no aqui e no agora. Estas novas agências e movimentos assentam, na sua maioria, numa exigência de reapropriação colectiva do comum, numa palavra, de comunização, recusando, ao mesmo tempo, a lógica representacional e hierárquica que subjazeu à acção de partidos e organizações de classe ao longo do século XX.
Propomo-nos, nas três sessões deste workshop, discutir o comunismo como nome que designa a essência da política e, ao mesmo tempo, como designação com potencial para fazer sentido dos mais recentes ciclos de luta contra o capitalismo e pela igualdade.
Propomos, nesse sentido, alguns textos para discussão nas sessões:
Bruno Peixe Dias é investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e da Númena – Centro de Investigação em Ciências Sociais e Humanas. Elaborou uma tese de mestrado sobre Alain Badiou e coordenou, com José Neves, a edição do livro A Política dos Muitos. Povo, Classes e Multidão (2010), publicado pelas Edições Tinta-da-China.
José Neves é professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e é investigador do Instituto de História Contemporânea da mesma faculdade. Tem trabalhado sobre comunismo, nacionalismo, historiografia e desporto.
9 Maio, 2012

ARTUR COIMBRA – APRESENTAÇÃO DA 3ª EDIÇÃO DE “DESAFECTOS AO ESTADO NOVO – EPISÓDIOS DA RESISTÊNCIA AO FASCISMO EM FAFE”

FONTE: Sala de Visitas do Minho

Desafectos ao Estado Novo (3ª edição) – Apresentado esta sexta-feira na Biblioteca Municipal de Faf

 
A minha obra Desafectos ao Estado Novo – Episódios da Resistência ao Fascismo em Fafe, na sua 3ª edição, revista e aumentada, vai ser apresentada ao público esta sexta-feira, 11 de Maio, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Fafe.
Inicialmente publicada em 2003, por iniciativa da Junta de Freguesia de Fafe e com segunda edição no ano imediato, a obra Desafectos ao Estado Novo – Episódios da Resistência ao Fascismo em Fafe inclui nesta edição alguns acrescentos a nível de texto e de imagem, que a enriquecem relativamente às anteriores.
Para o autor, não deixa de constituir uma enorme alegria, porquanto é o seu primeiro livro a atingir este patamar, fruto certamente da procura e da divulgação e expansão que tem tido ao longo dos últimos anos, não apenas em Fafe, mas um pouco pelo país, para onde foi sendo enviada pela autarquia. Honra-me de sobremaneira ter este livro referenciado na bibliografia de obras de ilustres investigadores do Portugal do século XX, como José Pacheco Pereira e Irene Flunser Pimentel (Prémio Pessoa 2007 e autora de obras fundamentais sobre o Estado Novo, de que é paradigma a gigantesca A História da PIDE, desse mesmo ano).
O objectivo fundamental da obra é relatar alguns episódios do que foi a resistência ao fascismo em Fafe, entre 1926 e 1974, em função das fontes documentais e dos testemunhos orais que foi possível reunir, num encontro promovido pelo autor com dezenas de antifascistas há duas décadas.
Com a devida contextualização como base no ambiente que se vivia a nível nacional e que foi recolhido na consulta de obras de referência historiográfica, foram passados em revista, cronologicamente e com a maior objectividade possível, o que foram esses anos, a partir das primeiras manifestações da resistência à Ditadura Militar, em Fevereiro de 1927, em que participaram militares fafenses, como o Major Miguel Ferreira, António Saldanha e o Tenente José Campos de Carvalho, até às últimas eleições do regime fascista, realizadas em 1969, sob a vigência de Marcelo Caetano.
Nos anos 30, destacam-se as primeiras levas de presos políticos em Fafe, sobretudo a partir de 1936, avultando ainda o combate político do jornalista José Manuel Teixeira e Castro para prosseguir o seu trabalho contra a censura e em defesa dos seus jornais.
Já na década seguinte, aborda-se a problemática do MUDJuvenil em Fafe, fala-se da famosa luta pelo pão, do encerramento político do Externato de Fafe na Rua Montenegro (1948), após duas décadas de funcionamento e das manifestações de apoio à candidatura do General Norton de Matos à presidência da República (1949). Lugar ainda para a evocação de uma experiência deveras interessante que foi a de uma biblioteca clandestina e de uma cooperativa de pedreiros nos finais dos anos 40.
Nos anos 50, avulta o assassínio pela PIDE do fafense Joaquim Lemos Oliveira, “Repas”, a vítima maior do regime deposto em 25 de Abril. Fala-se ainda da grande homenagem distrital ao Major Miguel Ferreira, das eleições presidenciais de 1958, em que participou o General Humberto Delgado e, finalmente, do documento cujo primeiro subscritor era o Major Miguel Ferreira e que afrontava directamente Salazar, desafiando-o o demitir-se.
Nos anos 60/70, já no declínio do regime, avultam a guerra colonial, a emigração e as eleições de 1969.
Esta obra tem ainda lugar para a evocação do lápis azul da censura e os seus reflexos no jornal local O Desforço, bem como para a recordação de diversos rostos que foram tecendo a longa e corajosa teia da resistência ao fascismo em Fafe.
Uma palavra ainda para os míticos espaços onde a oposição mais se exerceu, como a Fábrica do Ferro, o Café Avenida, o Teatro-Cinema e a casa do Major Miguel Ferreira, em Antime.
Finalmente, alguns textos sobre a resistência e a emergência do 25 de Abril, no país, como em Fafe.
A obra inclui ainda testemunhos, depoimentos e artigos do Professor Emídio Guerreiro, Francisco Oliveira Alves, António Teixeira e Castro, Parcídio Summavielle, Domingos Gonçalves, Paula Nogueira e João Baptista Alves da Mota.
A obra é desde o início a homenagem do autor, como assumido “filho de Abril”, àqueles fafenses de outrora que sacrificaram as suas vidas, os seus bens, a sua família, os seus trabalhos, a sua liberdade, ao serviço do bem comum, de um país melhor e mais respirável e que culminaria, luminosamente, no dia 25 de Abril de 1974, com a restauração da liberdade e da democracia em Portugal!                                              
                                

Publicada por em Terça-feira, Maio 08, 2012

9 Maio, 2012

SOBRE A REVISTA E AS EDIÇÕES RUEDO IBERICO

FONTE: IISG

Assault on Ruedo Ibérico

On the occasion of World Press Freedom Day (3 May) the IISH highlights one of its collections in relation to press freedom.

‘Una formidable arma de contrainformación….’ Publisher Ruedo Ibérico’s role in the struggle against Franco’s censorship

In the night of 13 to 14 October 1975 a firebomb exploded on the rue de Latran in Paris. The target of the bombing was the bookshop and Spanish exile publisher Ruedo Ibérico. Although the bomb did  not cause any casualties, it damaged the building, as well as thirty cars parked along the street. While back in Madrid Franco prolonged his fight against death, obscure right-wing factions with ties to the Spanish police and intelligence services demonstrated that freedom of expression remained a target of assaults.

The publishing company Ruedo Ibérico was largely created by one individual: José Martínez Guerricabeitia. José Martínez, called ‘Pepe’ by his friends, was an exceptional man who had a major role in Spanish anti-Francoist cultural and political circles.

Continue reading on:

This contribution was made by Huub Sanders on the occasion of 3 May World Press Freedom Day. Read all previous contributions on World Press Freedom Day (2011-2003).

9 Maio, 2012

NOVO LIVRO SOBRE A TRANSIÇÃO ESPANHOLA: EL PCE Y EL PSOE EN LA TRANSICIÓN. LA EVOLUCIÓN IDEOLÓGICA DE LA IZQUIERDA DURANTE EL PROCESO DE CAMBIO POLÍTICO, Madrid, Ed. Siglo XXI, 2012.